Carros de golfe viram artigo superluxuoso e buscam espaço nas estradas

Das azaleias florescentes do clube de golfe Augusta National ao deslumbrante resort de golfe Turnberry, na Escócia, o esporte é conhecido por sua beleza natural. O mesmo não pode ser dito, contudo, do principal meio de transporte do desporto.

Mas uma empresa dinamarquesa tem a missão de colocar arte em carrinhos de golfe. A Garia, com sede em Copenhague, é a autodenominada “a primeira e única” marca de carros de luxo para golfe e lazer do mundo (isto é, carro, não carrinho), cujos objetivos de regenerar o carrinho de golfe tradicional levaram a ambições que vão muito além dos limites dos 18 buracos.

Tais objetivos pareciam distantes em 2005, quando Anders Lynge, ainda na escola de design, conheceu Soren Bak Hansen durante um estágio em uma empresa automobilística. Ao perceber uma lacuna no mercado, a dupla fundou a Garia. “Quando se tratava de carrinhos de golfe, há 18 anos, todos pareciam iguais – não havia nenhum produto de alta qualidade por aí”, disse Lynge à CNN.

“Se você morasse em uma comunidade sofisticada – pagando centenas de milhares de dólares em taxas de adesão, uma casa de US$ 10 milhões (R$ 51,5 mi) – todo o estilo de vida dessas pessoas, desde seus carros até suas roupas, tudo super personalizado. Achamos estranho que todos tivessem o mesmo tipo de carrinho de golfe”, afirmou ele.

“Então a ideia por trás do Garia era basicamente dizer: ‘Como podemos fazer um produto que atenda ao estilo de vida dessas pessoas, que tenha o mesmo tipo de qualidade que eles estão acostumados com todos os outros produtos com os quais estão cercados? Isso realmente mudou nosso foco para dizer: ‘Ei, vamos fazer isso: o melhor carro de golfe’”.

Alcançar esse objetivo era mais fácil de falar do que fazer. Existem várias razões para a uniformidade do tradicional carrinho de golfe, de formato estreito e vertical, explicou Lynge. O fato de ter que caber em campos de golfe e seus vários caminhos e realizar curvas de 180 graus em um beco sem saída limita a criatividade do design”, disse Lynge.

“É o pior tipo de formato que você pode ter – não parece muito dinâmico. Você quer algo que tenha o formato de um Lamborghini – muito baixo e largo – mas o carrinho de golfe é exatamente o oposto.”

No entanto, surgiram soluções: prolongar a distância entre eixos, aumentar o habitáculo, jantes de liga leve de 12 polegadas sem calotas, inéditas, que substituíram o tradicional visual “deep plate” e uma suspensão dianteira de duplo braço triangular – comum em automóveis desportivos – para melhorar a manobrabilidade.

Os veículos de Garia podem parecer maiores e mais “musculosos” do que um carrinho de golfe comum, mas as proporções são as mesmas de qualquer outro buggy padrão. Este é simplesmente um “truque” visual – e longe de ser o único.

Uma caixa de armazenamento escondida atrás do assento serve para levantar a linha de cintura, reduzindo o espaço da cabine para dar uma sensação mais de carro, enquanto linhas de destaque e rodas empurradas para as bordas ajudam a aterrar o veículo.

Lynge brincou extensivamente com espaços positivos e negativos, inspirando-se no 911 da Porsche para usar formas convexas e côncavas em todo o carro. Isso torna o armazenamento em armazém um “pesadelo”, mas as recompensas visuais valem a pena, diz Lynge.

Empresa de elite

Na verdade, é raro que dois Garias sejam exatamente iguais. Usando um configurador online inspirado no personalizador de calçados da Nike, os compradores em potencial podem escolher a dedo quase todos os aspectos de seu veículo; desde a cor da carroceria e do teto – 44 opções e subidas – até rodas e recursos internos, como geladeiras e porta-copos. Existem milhões de combinações possíveis.

A empresa alemã de modificação de carros de luxo Mansory, que trabalha com clientes como Bentley e Lamborghini, oferece uma linha de acessórios e até um carro totalmente em fibra de carbono. Outras colaborações incluíram o fornecedor alemão da Bugatti, Kussmaul, com o qual Garia fez parceria para construir um único carro cromado de edição especial, capaz de acelerar de 0 a 40 km/h (25 milhas por hora) em menos de dois segundos.

Outro envolveu a Mercedes, com quem Lynge fez contato pela primeira vez depois de vencer uma competição promovida pela gigante automobilística para projetar um carrinho de golfe. Lynge aproveitou a cerimônia de premiação como uma oportunidade para apresentar um sonho que seria realizado em 2016 – um carro de golfe Garia inspirado no estilo Mercedes-Benz.

Vendido no varejo por pouco menos de € 80 mil (US$ 86 mil/R$ 443 mil), o carro totalmente em fibra de carbono tinha o dobro da duração da bateria e o dobro da potência de um Garia típico, atingindo velocidades de 69 km/h (43 milhas por hora). “Muito caro… super exclusivo, mas também o carro de golfe mais legal que você já viu”, disse Lynge.

Fora dos limites

A sua escassez significa que apenas um grupo selecionado poderá ser visto nas estradas europeias. Criar modelos para as ruas sempre foi o plano de Garia, mas obter a certificação não é tarefa fácil. São necessários testes extensivos – e, portanto, caros – de segurança e de colisão para obter o status da estrada, e os requisitos variam entre as regiões.

Embora a Europa permita velocidades maiores, os EUA aplicam um limite legal estrito de 40 km/h (25 milhas por hora) para esses veículos. Mas isso não desanimou Lynge, que via a prevalência de comunidades de golfe nos EUA como um mercado potencialmente lucrativo para Garia. A empresa foi vendida pelo Grupo Lars Larsen para a gigante americana de golfe e utilitários Club Car em 2022.

A versão básica do carro de golfe de dois lugares de Garia – sem qualquer personalização ou recursos adicionais – tem um preço de varejo sugerido pelo fabricante de € 14.939 (US$ 16.100/ R$ 83 mil), com a edição de quatro lugares a partir de € 20.189 (US$ 21.770/ R$ 112 mil). As variantes legais de rua para a Europa e os EUA chegam a € 18.959 (US$ 20.440/ R$ 105 mil) para o modelo de dois lugares e sobem para € 21.219 (US$ 22.880/ R$ 117,8 mil) para quatro assentos.

“Sentimos que esses carros são muito divertidos de dirigir e divertidos de interagir”, disse Lynge. “Não sei a percentagem exata, mas grande parte dos nossos carros também é comprada por pessoas que não jogam golfe. Eles estão apenas em uma casa de férias.”

Ao olhar para o futuro, Lynges imagina Garia saindo do golfe e entrando no espaço de lazer, tornando-se “cada vez mais parecido com um carro” a cada ano que passa, tornando veículos adequados à mobilidade urbana.

“Se você dirige por Londres, quão rápido você precisa ir? Quarenta e três milhas por hora são muitas oportunidades, certo? Há um tipo estranho de espaço lá, à medida que o mercado muda para totalmente elétrico, onde tudo está no ar”, disse ele.

“Não sei onde vamos chegam, mas sinto que temos algumas lições interessantes conosco nesta jornada que temos feito e que nos colocam numa boa posição para fazer mobilidade, talvez num sentido mais amplo, do que apenas golfe.