Américo Martins
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Américo Martins

Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou mais de 70 países

Análise: Brasil tenta separar política de economia para negociar com Trump

Planalto trabalha com a expectativa de que os EUA vão implementar as tarifas de 50% no dia 1º de agosto, mas pretende negociar durante as investigações determinadas pela Casa Branca no comércio entre os dois países

Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca  • REUTERS/Nathan Howard
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O governo brasileiro trabalha com a expectativa de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai mesmo implementar a partir de 1º de agosto a elevação das tarifas de importação de produtos brasileiros para 50%. Fontes afirmam, no entanto, que o governo entende as exigências políticas relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às chamadas big techs como “sanções políticas” e que essas não podem ser negociadas sob nenhum aspecto.

Segundo a CNN apurou, a avaliação é a de que Trump não deixou nenhum espaço de manobra para que ele próprio recue em suas demandas políticas. Portanto, a implementação das tarifas é praticamente inevitável.

Apesar do cenário desfavorável, a CNN também apurou que o Palácio do Planalto aposta em manter separadas as negociações comerciais dessas demandas políticas. Segundo um interlocutor, a experiência mostra que ceder nessas situações aumentaria as exigências por parte dos EUA. Por outro lado, o governo mantém as portas abertas para negociar questões comerciais, especialmente no âmbito das investigações da seção 301 da lei de comércio dos EUA, determinadas por Trump.

A expectativa é de que nesta segunda negociação - essencialmente comercial - alguns setores possam ser excluídos do aumento, por interesses americanos ou lobby de grupos empresariais.

Até agora, os Estados Unidos não responderam às tentativas brasileiras de negociação sequer das tarifas de 10% aplicadas no início do governo Trump, nem das tarifas de 50% sobre aço e ferro. Apesar disso, Brasília segue enviando sinais de que quer diálogo no âmbito comercial para tentar reduzir o impacto do novo aumento.

O governo brasileiro também não aposta que empresas americanas entrem na Justiça em massa contra as decisões do governo por receio de retaliação da Casa Branca.