Trump dá fim à curta fase moderada da campanha nos EUA e pode ajudar democratas
Convenção do Partido Republicano ratifica candidatura do ex-presidente, que faz discurso radical, repleto de ataques e desinformação

O ex-presidente Donald Trump encerrou a Convenção Nacional do Partido Republicano com um discurso que deu fim à curtíssima fase moderada da campanha eleitoral nos Estados Unidos.
Depois de sobreviver ao atentado na Pensilvânia no último sábado (13), a campanha de Trump afirmou que ele iria baixar o tom de seus discursos e fazer apelos ao eleitorado independente, dizendo que o país precisava de união e que, se eleito, ele governaria para todos os americanos.
O Partido Democrata, acusado por aliados do ex-presidente de ter instigado o ódio contra ele, tirou do ar várias propagandas que atacavam o republicano.
O presidente Joe Biden chegou a ligar para Trump logo depois da tentativa de assassinato e os dois tiveram uma conversa telefônica (a primeira em anos) que foi descrita como cordial.
Políticos de todas as vertentes, claro, condenaram o atentado e afirmaram que a temperatura política tinha que ser reduzida, com menos ataques e acusações entre candidatos.
Mas essa fase política civilizada durou menos de uma semana.
No discurso final da convenção, Trump até tentou parecer moderado. Mas não conseguiu conter a própria personalidade.
Citações a Deus
No início, ele fez uma fala que começou com muitas citações a Deus, uma descrição emocionada do atentado e afirmou que governaria para toda a população dos Estados Unidos, incluindo os democratas e aqueles que não concordam com ele.
Cerca de 30 minutos depois, ele voltou a ser quem sempre foi.
Ignorou o discurso que seus marqueteiros escreveram e começou a falar de improviso, atacando raivosamente o presidente Biden e os democratas.
Em vários pontos, apelou, como de hábito, às informações falsas e também fez promessas populistas difíceis de serem cumpridas – como derrubar imediatamente os preços da energia e baixar de uma tacada a taxa de juros.
Um levantamento da CNN encontrou pelo menos 20 citações falsas ou errôneas em suas falas.

Ele disse, por exemplo, que as taxas de criminalidade em todo o mundo estavam caindo porque vários países estavam mandando criminosos para os Estados Unidos.
Também afirmou que suas ações eliminaram o Estado Islâmico em apenas dois meses – sendo que foram necessários anos, e a ajuda de muitos países, para conseguir esse feito.
Os ataques e a desinformação foram de tal ordem, num discurso que durou exatamente uma hora e 32 minutos, que os democratas consideraram uma boa notícia para eles.
David Axelrod, ex-conselheiro sênior do então presidente Barack Obama, disse à CNN que o discurso do republicano confirma para todo o mundo quem Trump realmente é e que ele nunca vai mudar.
“O discurso realmente lembrou a todos por que Donald Trump é fundamentalmente impopular fora desta sala [a convenção republicana]”, disse ele.
Com a volta à normalidade raivosa da extrema polarização no país, os democratas vão voltar a afirmar que o possível retorno de Trump à Casa Branca seria uma ameaça à estabilidade e à democracia nos Estados Unidos.
Isso dá, em tese, uma oportunidade aos democratas. Mas para conseguir qualquer avanço, eles precisam de um fato novo que entusiasme os seus eleitores e potencialmente os independentes.
O mais óbvio desses fatos seria a substituição de Biden por um nome mais energético, capaz de conseguir mobilizar os eleitores insatisfeitos com um Trump que nunca mudou.