Entrada tardia de Kamala Harris em disputa presidencial divide especialistas
Nomeação de vice-presidente conta com o apoio de Joe Biden, mas decisão cabe à Convenção Democrata agendada para agosto

Para alguns, a vice americana Kamala Harris chega atrasada na disputa contra Donald Trump, o ex-presidente dos Estados Unidos que virou notícia no mundo depois de ser alvo de um ataque a tiros. Para outros, Kamala chega no momento certo para revirar as histórias que ficarão marcadas nesta campanha, e a de uma mulher negra que pode alçar ao posto de presidente do país mais importante do mundo é um daqueles enredos de filmes americanos que prende atenção de republicanos a democratas.
Para Lucas Martins, professor de Política e doutorando na Universidade Temple, na Filadélfia, o ato de desistência do candidato da situação conseguiu mudar a narrativa da campanha. "Dá pra dizer que o Biden acertou no momento do anúncio da desistência. Tirou o foco da candidatura de Trump e toda a questão do atentado. Colocou fôlego na candidatura democrata. Biden também acertou em anunciar o apoio a Harris de forma imediata. Inibiu qualquer indício de divisão dentro do partido", disse à CNN.
Na avaliação do professor, que integra movimento de evangélicos progressistas nos Estados Unidos, Kamala Harris "não chegou atrasada, não". O especialista prevê que ela "terá toda a visibilidade da Convenção Democrata em agosto", principalmente porque é a única candidata que pode, pelas regras eleitorais, se beneficiar dos recursos arrecadados pela campanha Biden-Harris.
Mas não é só de anúncio que depende a campanha de Kamala Harris. O professor de Direito Internacional da Universidade Federal de Mato Grosso, Valerio Mazzuoli, observa que os americanos que estavam indecisos em votar em Biden vão querer saber qual a diferença se votarem em Kamala. Um discurso para conquistar novos votos, sem perder os que a campanha de Biden já tinha.
"Eu penso que Kamala está numa encruzilhada neste momento, porque deverá representar uma proposta 'nova' para a presidência dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que não pode abandonar a linha que aparentemente vem seguindo ao lado do Presidente Biden, que tem demonstrado claros sinais de debilidade", disse à CNN.
Para o professor, Kamala "chega um pouco atrasada na disputa e terá que vencer a rejeição que vem sofrendo pelos eleitores norte-americanos pelas suas declarações enquanto Vice-Presidente".
Ao desistir da disputa, o presidente americano Joe Biden declarou apoio à candidatura de Kamala Harris. Mas essa troca não é automática. A escolha será oficializada na Convenção Democrata, em agosto, e sempre há a possibilidade de delegados do partido quererem escolher outra pessoa.