Venezuelanos pedem que Lula reconsidere embaixadora em posse de Maduro
ONGs buscam apoio para tentar conter crise no país
Um grupo formado por mais de 50 ONGs lideradas por venezuelanos protocolou junto ao Itamaraty uma carta na qual pede para presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconsiderar a decisão de o envio de uma representante para a posse do presidente Nicolas Maduro.
“Nos dirigimos a Vossa Excelência, em representação da sociedade civil venezuelana dentro e fora da Venezuela, especialmente dos milhares de venezuelanos que encontraram no Brasil seu novo lar, para expressar nossa profunda preocupação com a decisão de seu governo de enviar representação diplomática à posse de Nicolás Maduro, que até o presente não tem demostrado ter sido eleito legitimamente”, diz a carta.
“O Brasil tem reiterado em múltiplas ocasiões que não reconhecerá Maduro como presidente até que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) publique as atas eleitorais. Esta situação persiste e sobre ela o Comitê de Direitos Humanos da ONU abriu um caso formal, exigindo que o regime venezuelano preserve e publique essas atas para garantir a transparência e a prestação de contas. Portanto, o envio de uma representação diplomática brasileira para participar na posse contradiz a postura que seu governo tem mantido até agora e pode ter graves repercussões não apenas para a comunidade venezuelana no Brasil, mas também para a estabilidade e a paz de toda a região”, complementa o documento.
O texto afirma ainda que o envio de uma representação oficial à posse de um regime não reconhecido pela maioria dos países democráticos do hemisfério implicaria violação de um processo eleitoral que tem sido objeto de múltiplas denúncias de fraude e violações de direitos humanos.
Ao final, o documento faz cinco pedidos:
1.Reconhecer a gravidade da crise: reconhecer e denunciar os impactos da crise venezuelana na região.
2. Condicionar a relação com o regime: exigir garantias básicas para qualquer relação diplomática.
3. Apoio a iniciativas internacionais: apoiar mecanismos internacionais de justiça.
4. Interceder junto às autoridades venezuelanas para viabilizar a liberação de pessoas detidas por razões políticas e garantir a emissão de salvo-condutos para os colaboradores da senhora Maria Corina Machado que se encontram asilados na Embaixada da Argentina em Caracas, permitindo sua saída em segurança.
5. Reconsidere a decisão de enviar representação diplomática à posse de Nicolás Maduro. Em seu lugar, exortamos que o Brasil liderasse uma frente regional coeso e firme na defesa dos direitos humanos e da democracia”.
A CNN entrou procurou o Itamaraty, mas ainda não teve retorno.
O grupo diz ser integrado por “organizações e coletivos da sociedade civil venezuelana em todo o mundo, incluindo defensores dos direitos humanos e setores comprometidos com a justiça e a liberdade”.
Todas as entidades assinam a carta, que também tem o nome de pessoas físicas. Organizadores relataram a CNN que parte das entidades acabou não assinando por receio de represálias na Venezuela.
A posse de Maduro ocorre nesta sexta-feira (14). O Brasil enviará a embaixadora em Caracas, Gilvânia de Oliveira.
Países da comunidade internacional não reconhecem a vitória de Maduro por entenderam que houve fraude e em razão disso não enviarão representantes. O governo brasileiro condicionou o reconhecimento a apresentação das atas eleitorais, o que nunca ocorreu. Isso gerou um distanciamento de Lula e Maduro após anos de relação próxima.
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