Caio Junqueira
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Caio Junqueira

Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

Elmar acena a STF, mercado, governo, oposição e planeja lançamento em agosto

Datas que vêm sendo planejadas por seu grupo são 12 de agosto ou 26 de agosto

Ministros do União Brasil defendem permanência de Elmar na disputa pela sucessão da Câmara, dizem fontes
Elmar deve disputar a presidência da Câmara  • Michel Jesus/Câmara dos Deputados
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O líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, deputado Elmar Nascimento (BA), acelerou durante o recesso parlamentar as articulações políticas para que possa ser lançado em agosto candidato a presidente da Casa com apoio de Arthur Lira (PP-AL).

As datas que vêm sendo planejadas por seu grupo são: 12 de agosto ou 26 de agosto. E coincidirão com a posse dele como líder do maior bloco da Câmara, que reúne União Brasil, Progressistas, a federação PSDB/Cidadania, PDT, Avante, Solidariedade e PRD. Ao todo, esse bloco tem 161 deputados.

Mas é fora da Câmara que Elmar acelerou as articulações neste recesso com acenos a diversos setores.

Nesta semana, por exemplo, fez uma palestra a um grupo grande de investidores em São Paulo no qual apresentou seu ponto de vista sobre as relações em Brasília e o direcionamento que pretende dar à Câmara caso seja eleito presidente da Casa a partir de 2025.

Disse considerar a Câmara uma espécie de poder moderador, com muito protagonismo na agenda nacional e espécie de freio de contenção ante tentativas de retrocessos na agenda de ambiente de negócios.

Referia-se ao bloqueio que o Congresso deu à ideia de setores do governo de retroagir no marco do saneamento aprovado em 2021 e na reforma trabalhista de 2017. Assegurou, ainda, que, se for eleito, não haverá retrocessos nessa agenda que, ao ver dele, favorece o ambiente de negócios no país.

Em outra frente, acenou ao governo — e em especial ao PT — ao intervir em diretórios municipais do seu partido para que o União Brasil apoiasse candidatos de expoentes do governo Lula.

A intervenção ocorreu, por exemplo, no diretório de Cruzeiro do Oeste, controlado pelo deputado Zeca Dirceu, filho de Zé Dirceu; de Santa Maria, reduto do ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta; e no Recife, para que a sigla apoiasse o prefeito João Campos, do PSB, mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. E em São Luís, reduto eleitoral do ministro do Supremo Tribunal Federal Flavio Dino.

Nas contas de seus aliados, ele já tem a maioria no PT.

Uma fonte graduada do PT disse à CNN que ele tem certamente um terço da bancada e que, se for o candidato oficial de Arthur Lira, o partido embarcará praticamente todo na candidatura de Elmar.

Petistas têm relatado o receio de um novo Eduardo Cunha na Câmara, o presidente da Câmara eleito em 2015 contra uma candidatura do Planalto e que acabou liderando o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

O próprio Elmar já alertou ao presidente Lula, segundo seus aliados, de que uma candidatura adversária a dele pode rachar a Câmara e ter consequências imprevisíveis.

União Brasil no comando das duas Casas do Congresso?

Sobre uma das principais críticas a sua candidatura, a de que o União Brasil ficaria muito empoderado porque controlaria a Câmara e o Senado com Davi Alcolumbre, ele tem dito a interlocutores que a solução ajuda o governo Lula, que tem como um dos principais problemas atualmente no Legislativo a falta de entendimento entre Arthur Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Elmar também tem trabalhado com a maior bancada da Casa, e da oposição, o PL de Jair Bolsonaro.

A avaliação dos coordenadores de sua campanha é que as posições do deputado contra o que considera excessos do Supremo Tribunal Federal (STF) — e em especial seu voto a favor da soltura de Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco —, agregaram votos a sua campanha.

Até mesmo o Judiciário entrou no rol de negociações. O pré-candidato já alertou ministros do Supremo Tribunal Federal que pretende levar adiante uma tentativa de conciliação entre Judiciário e Legislativo, que na atual quadra política têm se confrontado nos bastidores.

A ideia de Elmar passada a pelos menos dois ministros da Corte é que o tribunal faça uma lista com os vácuos legislativos para que a Câmara possa avaliar sua deliberação e, assim, evitar que o assunto acabe indo parar no STF.