Clarissa Oliveira
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Clarissa Oliveira

Viveu seis anos em Brasília. Foi repórter, editora, colunista e diretora em grandes redações como Folha, Estadão, iG, Band e Veja

Análise: vitória de Nunes vem recheada de recados silenciosos a Bolsonaro

Do discurso às mensagens paradas na caixa de entrada, prefeito indica que ex-presidente terá papel marginal nessa próxima gestão

Ricardo Nunes (ao centro) comemora a reeleição em São Paulo com o governador paulista, Tarcísio de Freitas (à direita na foto); à esquerda de Nunes na foto, estão o vice-prefeito eleito, Mello Araújo, e o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi
Ricardo Nunes (ao centro) comemora a reeleição em São Paulo com o governador paulista, Tarcísio de Freitas (à direita na foto); à esquerda de Nunes na foto, estão o vice-prefeito eleito, Mello Araújo, e o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi  • 27/10/2024 - CNN
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No discurso da vitória, foram quase 15 minutos sem que o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) sequer mencionasse o nome de Jair Bolsonaro. Quando veio, a menção teve, como protagonista, o vice Mello Araújo. Ao ex-presidente coube apenas ser reconhecido como o responsável por ter indicado o companheiro de chapa do prefeito reeleito, agora fortalecido pelo reconhecimento das urnas.

Como já era de se imaginar, não houve agradecimento, muito menos elogios a Bolsonaro. O “líder maior”, disse Nunes com todas as letras, é Tarcísio de Freitas. Esses foram apenas os primeiros de muitos recados.

Mais de 13 horas haviam se passado desde aquele discurso na festa da vitória quando o prefeito concedeu, nesta manhã, uma entrevista ao Live CNN. Ali, provocado pela âncora Elisa Veeck, o prefeito abriu o celular para verificar se havia recebido uma mensagem de Bolsonaro para parabenizá-lo pela vitória.

A mensagem chegou. Mas, até aquele momento, o prefeito não havia respondido a Bolsonaro. Também não havia retribuído a mensagem enviada pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Disse não ter tido tempo de ver as mais de 4 mil mensagens que aguardavam na caixa de entrada. Mas prometeu fazê-lo assim que possível.

Para além desses pequenos gestos, Ricardo Nunes tem sinalizado que também não há cota garantida a Bolsonaro na nova gestão. Segundo relatos de aliados próximos do prefeito, nunca houve um compromisso claro para que Nunes acomodasse aliados do ex-presidente na máquina pública, embora a expectativa seja evidente.

Haverá, naturalmente, uma recomposição da máquina que contemple o PL e outros partidos que apoiaram o prefeito reeleito. Mas não necessariamente as demandas de Bolsonaro e da respectiva sigla serão atendidas a contento.

Na mesma entrevista ao Live CNN, Nunes jogou um balde de água fria nas especulações sobre uma possível indicação do PL para a Secretaria de Educação, avisando que a pasta ficará com alguém vinculado a ele.

Sobre uma possível indicação de Mello Araújo para a Segurança Urbana, o prefeito reeleito disse não ter conversado com o vice ainda. Mas afirmou ver, como um possível destino para o colega de chapa, uma secretaria-executiva em que possa cuidar de ações estratégicas para a cidade.