Dólar cai 11% contra o Real no ano com incertezas nos EUA e juros no Brasil
Moedas ganham força contra divisa norte-americana com realocação de capitais
A desvalorização do dólar em 2025 era um cenário improvável no mercado de câmbio no início deste ano. Mas a realidade em apenas seis meses é outra.
Um levantamento exclusivo para blog realizado por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, com base na Ptax desta terça-feira (24), mostra que o dólar acumula uma perda de 11,28% em relação ao real neste ano, o que coloca a moeda brasileira como a 3ª mais valorizada do mundo até agora, atrás apenas do rublo russo (-29,07%) e da coroa sueca (-13,60%).
E esse não é um movimento isolado. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, também recua no ano (-9,77%).
Segundo Rivero, o ranking mostra um padrão de valorização cambial global frente à moeda americana — com destaque para países desenvolvidos como Suíça, Noruega e Dinamarca, além da Zona do Euro e Taiwan.
Mas o que explica esse enfraquecimento do dólar em 2025? Os fatores externos, certamente, foram os que mais pesaram.
Fatores externos: fim do “porto seguro” e juros nos EUA
Para Bruna Allemann, head da mesa internacional da Nomos, o pano de fundo da desvalorização é predominantemente global.
“Diversas moedas — inclusive de países emergentes — vêm ganhando força diante do enfraquecimento estrutural da moeda americana, motivado por expectativas de queda dos juros nos EUA, aumento do déficit fiscal e perda de fôlego do consumo americano. Se o Federal Reserve confirmar os cortes até o fim do ano, a tendência é que o dólar siga pressionado, ao menos no curto prazo".
Além disso, as incertezas da política tarifária dos EUA junto ao arrefecimento do conflito no Oriente Médio reduziram o fator “porto seguro” que tradicionalmente sustenta o dólar em momentos de estresse geopolítico.
William Castro, estrategista-chefe da Avenue, reforça que o momento de reavaliação global de portfólios cambiais ajuda a impulsionar essa nova dinâmica.
“Tem uma realocação de capitais globais. Parte dos recursos que antes estavam muito alocados nos Estados Unidos saíram e buscam destinos como o Brasil, pela atratividade da taxa de juros, tamanho de mercado e fluxo comercial.”
Ele explica ainda que, mesmo que estruturalmente o dólar continue sendo o principal ativo de reserva global, no curto prazo há espaço para um reequilíbrio, principalmente diante de um Federal Reserve mais cauteloso com os juros e de um crescimento econômico moderado nos EUA.
Brasil em destaque: juros altos, petróleo e fluxo externo
Do lado doméstico, a conjuntura econômica também tem contribuído para o fortalecimento do real. Para Bruna Allemann, nesse ponto há uma combinação de fundamentos locais que favorece a valorização.
“Juros altos, superávit comercial e fluxo de investimentos externos têm sustentado essa valorização. Mas esse cenário pode se inverter rapidamente caso haja aumento de incerteza fiscal, desaceleração da economia chinesa ou mudança abrupta na política monetária americana.”
A alta dos preços do petróleo também funciona como tração para a moeda brasileira, já que o Brasil é um dos principais exportadores globais. A retirada de estímulos via IOF e a atuação mais pontual do Banco Central no câmbio também contribuíram para a normalização das expectativas.
William Castro destaca também a atratividade do Brasil dentro do universo dos emergentes.
“Quando se fala em América Latina, os dois grandes mercados são México e Brasil. Os fluxos vêm para cá. No caso do Brasil, ainda há o fator agro, que impulsiona o crescimento. Isso nos coloca como destino relevante para realocação de recursos.”
Ranking das moedas que mais se valorizaram frente ao dólar em 2025
O levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que até o fechamento da Ptax desta terça-feira, 24 de junho, o real vem conseguindo se manter como a terceira moeda mais valorizada a nível global.
- Rússia (Rublo Russo): -29,07%
- Suécia (Coroa Sueca): -13,60%
- Brasil (Real - Ptax): -11,28%
- Suíça (Franco Suíço): -10,99%
- Noruega (Coroa Norueguesa): -10,84%
- Dinamarca (Coroa Dinamarquesa): -10,45%
- Zona do Euro (Euro): -10,42%
- Taiwan (Dólar Taiwanês): -9,98%
- Índice DXY: -9,77%
- Inglaterra (Libra Esterlina): -8,75%
Tendência até o fim do ano
A leitura majoritária dos especialistas é de que a tendência de enfraquecimento do dólar deve se manter, ao menos no curto prazo, sobretudo se o Federal Reserve confirmar cortes de juros a partir do segundo semestre. Tendência que tem sido captada pelos últimos Boletins Focus do Banco Central.
“Hoje a queda do dólar é potencializada por fatores globais e domésticos recentes. Mas o cenário ainda é incerto e muita coisa pode mudar”, alerta Bruna.
Já William pondera que, embora a conjuntura atual favoreça o real, existem fatores estruturais que limitam uma valorização permanente da moeda brasileira.
“O dólar segue como principal ativo de reserva global. Além disso, a inflação acumulada no Brasil ao longo dos anos corrói o poder de compra do real frente ao dólar. A taxa de câmbio reflete isso no longo prazo.”
Apesar do otimismo moderado com o real no curto prazo, analistas do mercado apontam que riscos fiscais no Brasil, uma eventual reversão da trajetória dos juros americanos ou um desaquecimento do setor externo — especialmente da China — podem inverter a direção do câmbio.
Ou seja, o fortalecimento do real em 2025 é resultado de uma tempestade perfeita: dólar fragilizado globalmente, fundamentos domésticos robustos e fluxo externo aquecido.
Mas a dúvida que permanece é: até quando o real resistirá aos riscos de um segundo semestre que promete ser volátil, tanto no Brasil quanto nos EUA?