De Jackson a McKinley, a Nova Era de ambição de Trump
Mudança de referencial histórico sugere um segundo mandato significativamente diferente do primeiro


A vitória de Donald Trump nas eleições de 2024 marca não apenas seu retorno à Casa Branca, mas potencialmente o início de uma era fundamentalmente diferente na política dos Estados Unidos.
Se seu primeiro mandato (2017-2021) foi caracterizado por uma abordagem populista que evocava Andrew Jackson, seu discurso de posse para o segundo mandato revelou uma mudança significativa ao citar William McKinley — o último presidente da chamada “Era Dourada” norte-americana.
Esta mudança de referencial histórico não é mera retórica: sinaliza uma transformação profunda em sua visão sobre os Estados Unidos e o seu lugar no mundo.
Durante seu primeiro mandato, Trump, como Jackson, apresentou-se como um outsider político que desafiava o establishment de Washington em nome do “homem comum”.
Sua Presidência foi marcada por uma retórica que antagonizava as elites do país, ataques constantes à mídia tradicional e instituições estabelecidas, protecionismo econômico focado em apelos aos trabalhadores, uma abordagem personalista ao Poder Executivo, além da mobilização de um eleitorado rural e trabalhador em detrimento de grupos urbanos.
Esta persona “jacksoniana” serviu bem a Trump naquele momento, estabelecendo-o como uma força disruptiva na política norte-americana que prometia “drenar o pântano” de Washington. Foi, portanto, em sua primeira administração, uma espécie de “herdeiro de Jackson”.
Agora, ao invocar McKinley em seu discurso inaugural de 2025, Trump sinaliza uma mudança fundamental em sua abordagem.
McKinley presidiu os Estados Unidos durante um período muito diferente — a culminação da “Era Dourada”, caracterizada por crescimento industrial sem precedentes e consolidação do poder econômico dos Estados Unidos, forte protecionismo voltado para o desenvolvimento desse setor, política externa assertiva e expansionista, alianças próximas entre governo e grandes corporações, urbanização acelerada e transformação social profunda.
Esta mudança de referencial histórico sugere um segundo mandato significativamente diferente do primeiro.
Trump parece estar sinalizando uma Presidência mais orientada para uma política industrial agressiva, com protecionismo mais sofisticado e orientado para setores estratégicos, maior intervenção governamental em setores-chave e foco em competição tecnológica com China e outros rivais.

Observa-se também um maior alinhamento com o poder das empresas, incluindo aproximação com grandes conglomerados industriais e tecnológicos, e desregulamentação mais ampla e sistemática.
Na política externa, projeta-se uma postura mais agressiva, com foco em dominância econômica global e possível expansão de influência territorial. Em seu segundo mandato, portanto, Trump dá sinais de um novo passo, rumo às ambições de McKinley.
A “Era Dourada” que Trump promete resgatar foi um período de extremos: inovação extraordinária e crescimento econômico sem precedentes, mas também de desigualdade social extrema, corrupção política e tensões sociais intensas.
Ao invocar este período, Trump parece estar sinalizando uma disposição de aceitar — ou até abraçar — essas contradições em nome do que prometeu e do que parece agora acreditar.
Esta nova orientação traz riscos significativos, incluindo potencial agravamento de desigualdades sociais e possibilidade de conflitos internacionais mais sérios.
A metamorfose de Trump de um populista “jacksoniano” para um imperialista na linha de McKinley representa mais que uma mudança de estilo — é uma transformação fundamental em sua interpretação do que é América e de qual legado pretende deixar.
Esta transformação sugere um segundo mandato mais ambicioso, mais duro e potencialmente mais consequente que o primeiro.
A questão crucial será se esta nova visão pode realmente “fazer a América grande novamente” ou se, como na original “Era Dourada”, essas políticas mascararão contradições profundas que poderão, eventualmente, exigir seu próprio acerto de contas no futuro.