Fernando Nakagawa
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Fernando Nakagawa

Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

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Botijão de R$ 100, Lula e a volta da Petrobras ao varejo do gás de cozinha

Planalto acusa “atravessadores” pelo preço ao consumidor; dados mostram que distribuição e Estados aumentaram valores

Botijões de gás de cozinha em revendedora em Campo Mourão, na Região Centro-Oeste do Paraná. Na foto, botijões de gás em distribuidora.
Botijões de gás de cozinha em revendedora em Campo Mourão, na Região Centro-Oeste do Paraná. Na foto, botijões de gás em distribuidora. 02/07/2022 - Foto: DIRCEU PORTUGAL/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO  • DIRCEU PORTUGAL/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - 02/07/2022
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A volta da Petrobras à distribuição e comercialização do gás de cozinha ao consumidor tem uma forte digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Palácio do Planalto, há forte incômodo com o fato de que, apesar do esforço da estatal e do governo, o preço médio no varejo não cai abaixo de R$ 100.

Não é de hoje que Lula argumenta que a culpa do preço do gás de cozinha é dos “atravessadores”.

A reclamação do presidente acontece na esteira da crítica do governo petista às privatizações da gestão de Jair Bolsonaro. Logo no início do governo passado, a Petrobras vendeu o controle da Liquigás – distribuidora de GLP – e da BR Distribuidora – subsidiária que operava a rede de postos Petrobras. Assim, a estatal deixou de vender diretamente ao consumidor.

Números da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) reforçam essa acusação sobre os tais “atravessadores”, mas revelam que não são apenas os distribuidores que estão ganhando mais: governadores também.

A EPE comparou a composição do preço do gás de cozinha em dois momentos: em dezembro de 2002 e 2023.

Em 2002, o botijão médio custava R$ 28. Na época, 50% do valor pago pelo consumidor remunerava a distribuição e revenda. Outros 37% eram para a Petrobras pela produção do GLP. O ICMS, imposto estadual, correspondia a 13%.

Duas décadas depois, em 2023, o preço médio do botijão estava em R$ 100. A fatia da distribuição subiu quase 2 pontos percentuais, para 51,8%. O imposto estadual aumentou ainda mais: quase 3 pontos, para 16,1%. Ao mesmo tempo, a participação da Petrobras caiu 5 pontos, para 32,1%.

Atualmente, em agosto de 2025, a composição é parecida: 51,1% da distribuição, 16,7% do ICMS e 32,2% da Petrobras.
Portanto, os dados históricos mostram que aumentou o peso do peso do ICMS e da distribuição no preço final. A Petrobras, ao contrário, diminuiu a participação na composição do valor final. Isso tudo em termos proporcionais.

Preço nominal

Quando se olha o preço nominal, porém, todos os preços acompanharam – em menor ou maior ritmo – a disparada do preço do petróleo vista especialmente após a pandemia e com o início da guerra na Ucrânia.

Em mais de duas décadas, o preço praticado pela Petrobras aumentou 330%, de R$ 8 pelos 13kg de GLP para os atuais R$ 34,74. Ao mesmo tempo, a fatia da distribuição e revenda saltou 403% e o valor nominal do ICMS disparou 538%.

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