China reconhece que reunião com EUA é passo crucial, mas pede paciência
Seria ingênuo imaginar que um histórico de desconfiança e acusações mútuas se resolverá em um fim de semana ensolarado de primavera em Genebra

Estados Unidos e China começaram a negociar um fim da guerra comercial neste fim de semana em solo neutro, a Suíça.
Chineses reconhecem que a conversa marca “um passo crucial” para solucionar a crise, mas pedem “paciência e perseverança”. Ou seja, avisam que é só o primeiro movimento dessa partida de xadrez.
Washington e Pequim enviaram nomes importantes, do primeiro time, para a negociação que começou no sábado (10) e segue neste domingo (11) em Genebra.
Scott Bessent, secretário do Tesouro, e Jamieson Greer, representante de Comércio, lideram a negociação pelos norte-americanos.
Do outro lado da mesa, chineses escolheram He Lifeng, vice-primeiro-ministro e principal assessor econômico de Xi Jinping, e Wang Xiaohong, principal nome da área de segurança do governo, considerado o “czar da segurança” da China.
A reunião acontece com expectativa gigantesca no mundo geopolítico e econômico. Há, inclusive, até sinais incipientes de otimismo. A realidade, porém, impõe cautela.
Seria ingênuo imaginar que um histórico de desconfiança e acusações mútuas, tarifas retaliatórias e disputas tecnológicas se resolverá em um fim de semana ensolarado de primavera em Genebra.
O caminho é longo, tortuoso e, provavelmente, recheado de condições que podem, a qualquer momento, azedar o caldo.
Pequim vende otimismo, mas a realidade...
A China chegou às negociações, com um argumento de que estaria saudável na economia.
A agência estatal Xinhua publicou texto na madrugada deste domingo que cita que negociadores chineses estão “confiantes de seus sólidos fundamentos econômicos”.
“A economia cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, as importações e exportações totais de bens ultrapassaram 43 trilhões de yuans (cerca de US$ 5,94 trilhões) em 2024, com um conjunto mais diversificado de parceiros comerciais e uma composição de exportações aprimorada”, diz a Xinhua.
A realidade chinesa, porém, pode não ser tão colorida assim.
O país interrompeu recentemente a divulgação de uma série de indicadores econômicos. A decisão aumenta a desconfiança de que a desaceleração da atividade pode ser mais profunda e disseminada daquela que mostram os números.
Mesmo assim, a China busca transmitir a imagem de que não está acuada, de que possui fôlego e alternativas que explicam tanta altivez em Genebra. Essa autoconfiança serve para reforçar a imagem de que o país é a potência em ascensão que ameaça a liderança histórica dos EUA.
O peso sobre os norte-americanos
Do outro lado do tabuleiro, os EUA chegaram ao encontro com uma tentativa de ação propositiva de Donald Trump. Na sexta-feira, o republicano acenou ao reconhecer que os 145% em impostos podem ser exagerados, e que uma alíquota de 80% seria “correta” para os chineses.
Mais que isso, Bessent e Greer cruzaram o Atlântico carregando na bagagem o peso da pressão econômica e da popularidade.
Os sinais de enfraquecimento da economia têm gerado influência crescente sobre as decisões do governo Trump. A Casa Branca virou alvo de uma enxurrada de críticas de empresários, industriais e do mercado financeiro – inclusive de eleitores de Trump.
Todos estão preocupados com o impacto da guerra comercial, que deve gerar mais inflação e pode derrubar a economia dos EUA na lona da recessão.
Além disso, a política também pesa sobre os negociadores. Pesquisas de popularidade mostram que Trump tem uma das piores popularidades da história para o início de um governo dos EUA.
Apesar de tantos senões, ver que, após tantas bravatas, norte-americanos e chineses tiveram um dia de reuniões aparentemente civilizadas representa uma dose de otimismo, mas é preciso manter os pés no chão. São os primeiros movimentos dessa partida complexa de xadrez.
O pragmatismo continuará? Quais concessões dolorosas que Washington e Pequim vão topar? Trump aceitará o conceito defendido pelos chineses de que o sucesso de um não precisa, necessariamente, significar o fracasso do outro?
Não será surpresa se essa partida de xadrez for longa e só terminar quando já não for mais primavera em Genebra.