Guerra comercial de 2018: EUA reconhecem que Brasil foi o maior vencedor
Departamento de Agricultura dos EUA avaliou impacto das tarifas no governo Trump 1 e diz que soja brasileira ocupou todo espaço dos EUA


A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos em 2018 teve alta de tarifas, retaliação de países e mudanças nas cadeias de fornecimento. Os impactos dessa reorganização foram analisados pelo Departamento de Agricultura (USDA) do governo dos EUA, que aponta para um grande vencedor: o Brasil.
Em 2018, o primeiro governo Donald Trump impôs tarifas sobre importações de aço e alumínio de vários países e, além disso, taxas adicionais sobre produtos da China.
Em resposta, seis grandes parceiros comerciais – Canadá, China, Índia, México, Turquia e União Europeia – responderam com tarifas retaliatórias sobre produtos dos EUA, incluindo agrícolas e alimentícios.
O USDA estima que entre 2018 e 2019 a retaliação comercial causou redução de mais de US$ 27 bilhões nas exportações agrícolas dos EUA. O maior prejuízo aconteceu com a queda das compras da China e, por produto, a soja representou impressionantes 71% da perda.
E, nesses dois mercados – China e soja, o Brasil ocupou basicamente 100% do espaço dos EUA.
“Para a soja, a maior parte do comércio perdido pelos Estados Unidos foi ganha pelo Brasil”, cita o estudo “Os Impactos Econômicos das Tarifas Retaliatórias na Agricultura dos EUA” produzido por sete pesquisadores do Serviço de Pesquisa Econômica do USDA.
O estudo avaliou as correntes de comércio que envolvem os principais produtos exportados pelos EUA. “Assim que as tarifas retaliatórias foram impostas, a China aumentou suas importações do Brasil e de outros países, exceto dos EUA”, cita.
No ano em que a guerra comercial começou, a China aumentou a compra de produtos agrícolas em US$ 8 bilhões na comparação com o ano anterior.
“No entanto, importou US$ 8 bilhões menos dos EUA. Assim, a China aumentou suas importações de todos os outros países em US$ 16 bilhões. Metade do aumento de US$ 8 bilhões foi do Brasil, e foi quase inteiramente de soja”, destaca o estudo de 54 páginas.
Segundo o USDA, outros mercados beneficiados foram a União Europeia, Austrália e Nova Zelândia, que conseguiram aumentar as exportações de soja em cerca de US$ 1 bilhão, cada, naquele mesmo ano.
Em 2019, a ocorrência da peste suína africana reduziu a demanda por soja na China – tradicional alimento para a suinocultura. O fato poderia ter gerado forte perda para exportadores brasileiros.
Não foi só a soja
O estudo nota, porém, que, nesse segundo ano da guerra comercial, o Brasil ganhou outros mercados. E, segundo o USDA, provavelmente roubando mercado novamente dos americanos.
“As exportações de soja do Brasil para a China diminuíram em US$ 6 bilhões em 2019, mas o total de exportações agrícolas (do Brasil) diminuiu apenas US$ 4 bilhões devido às exportações de carne e algodão do Brasil para a China, talvez desviando o comércio dos EUA”, cita o documento.
O estudo nota, ainda, que os chineses aumentaram importações de carnes, laticínios e óleos vegetais – todos os produtos que tinham tarifas retaliatórias em vigor em 2019. Em todos esses segmentos, os americanos também não conseguiram aumentar a participação.
Diante da queda de participação dos americanos no mercado chinês, o estudo levanta a hipótese de que o prejuízo poderá ser permanente para produtos dos EUA.
“É preciso entender os efeitos de longo prazo da retaliação que distorce o comércio na competitividade das exportações e na participação de mercado dos EUA. Por exemplo, dado que o Brasil aumentou as exportações de soja para a China durante a disputa comercial, é importante investigar quão competitiva será a soja dos EUA caso as tarifas permaneçam em vigor ou se forem removidas.”
Um dos argumentos do USDA é que, em 2020, um acordo entre EUA e China removeu parte das tarifas entre os dois países.
A derrubada das taxas, porém, não deu aos americanos o mesmo lugar no mercado chinês. “Um ano após o acordo, a participação de mercado dos EUA ainda permanecia abaixo dos níveis anteriores às tarifas retaliatórias”, cita o estudo.