Embargo do Carrefour à carne é como suspender compra de rapadura da França: inócuo
Franceses compraram apenas 0,005% de todas as carnes vendidas pelo Brasil no ano passado
O CEO de qualquer grande multinacional sabe ler tabelas. Alexandre Bompard é um deles. Formado na prestigiosa L’École nationale d’administration (ENA), o CEO do Carrefour anunciou que vai interromper a compra de carne do Mercosul. Ele sabe que isso não quer dizer nada. É como se o Brasil anunciasse a imediata suspensão da importação de rapadura da França.
O Brasil é um grande vendedor de carne para o mundo. E isso já virou uma marca do país pelo mundo – para o bem ou para o mal. No ano passado, passaram pelos portos brasileiros US$ 22 bilhões em carne bovina, suína de aves. Os números do Brasil constam do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento.
O valor já supera as exportações somadas de dois dos principais símbolos da França: vinho e perfume.
Em 2022, a França exportou o equivalente a US$ 13,1 bilhões em vinhos para o mundo e outros US$ 7,2 bilhões em perfumes. Portanto, juntos, os dois itens somaram US$ 20,3 bilhões – menos que as proteínas brasileiras.
Os dados franceses são do Observatório de Complexidade Econômica (OEC), projeto que nasceu no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Portanto, a carne é um item importantíssimo para a pauta exportadora do Brasil. Bompard sabe disso. Mas ele também sabe quem são os compradores dos bifes do Mercosul – e os franceses não estão lá.
O principal tipo de carne comprada pelos franceses do Brasil são as peças bovinas congeladas. Nessa lista, a França ocupa um modesto 74º lugar no ranking dos maiores compradores do país. Com US$ 678 mil em 2023, a França é um cliente menor que as Ilhas Marshal, na Micronésia.
De tudo o que o Brasil vende para a França, a carne representa apenas 0,04% do total exportado. Bompard sabe que isso é nada.
Quando a comparação é feita apenas no grupo carne da pauta de exportações, a França é ainda mais irrelevante. Dos US$ 22 bilhões vendidos no ano passado, os embarques aos franceses representaram exatamente 0,005% de todo o montante.
Bompard também sabe disso.
Será que a varejista francesa que tem o Brasil como segundo mercado no mundo – atrás apenas da sede – também vai anunciar que não venderá mais soja e derivados brasileiros? Ou o café exportado pelos produtores do Brasil?
Bompard vai fazer contas, e aposto que não.