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    Fernando Nakagawa
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    Fernando Nakagawa

    Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

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    Embargo do Carrefour à carne é como suspender compra de rapadura da França: inócuo

    Franceses compraram apenas 0,005% de todas as carnes vendidas pelo Brasil no ano passado

    O CEO de qualquer grande multinacional sabe ler tabelas. Alexandre Bompard é um deles. Formado na prestigiosa L’École nationale d’administration (ENA), o CEO do Carrefour anunciou que vai interromper a compra de carne do Mercosul. Ele sabe que isso não quer dizer nada. É como se o Brasil anunciasse a imediata suspensão da importação de rapadura da França.

    O Brasil é um grande vendedor de carne para o mundo. E isso já virou uma marca do país pelo mundo – para o bem ou para o mal. No ano passado, passaram pelos portos brasileiros US$ 22 bilhões em carne bovina, suína de aves. Os números do Brasil constam do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento.

    O valor já supera as exportações somadas de dois dos principais símbolos da França: vinho e perfume.

    Em 2022, a França exportou o equivalente a US$ 13,1 bilhões em vinhos para o mundo e outros US$ 7,2 bilhões em perfumes. Portanto, juntos, os dois itens somaram US$ 20,3 bilhões – menos que as proteínas brasileiras.

    Os dados franceses são do Observatório de Complexidade Econômica (OEC), projeto que nasceu no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

    Portanto, a carne é um item importantíssimo para a pauta exportadora do Brasil. Bompard sabe disso. Mas ele também sabe quem são os compradores dos bifes do Mercosul – e os franceses não estão lá.

    O principal tipo de carne comprada pelos franceses do Brasil são as peças bovinas congeladas. Nessa lista, a França ocupa um modesto 74º lugar no ranking dos maiores compradores do país. Com US$ 678 mil em 2023, a França é um cliente menor que as Ilhas Marshal, na Micronésia.

    De tudo o que o Brasil vende para a França, a carne representa apenas 0,04% do total exportado. Bompard sabe que isso é nada.

    Quando a comparação é feita apenas no grupo carne da pauta de exportações, a França é ainda mais irrelevante. Dos US$ 22 bilhões vendidos no ano passado, os embarques aos franceses representaram exatamente 0,005% de todo o montante.

    Bompard também sabe disso.

    Será que a varejista francesa que tem o Brasil como segundo mercado no mundo – atrás apenas da sede – também vai anunciar que não venderá mais soja e derivados brasileiros? Ou o café exportado pelos produtores do Brasil?

    Bompard vai fazer contas, e aposto que não.

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