Fernando Nakagawa
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Fernando Nakagawa

Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

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Enel SP gastou 22% menos em pessoal e materiais que previsto pela Aneel

Relatório da agência reguladora mostra que a empresa tem o 4º pior patamar de investimento do Brasil

Logo da Enel  • Divulgação
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A ventania é apontada como causa da crise elétrica na Grande São Paulo. O clima extremo, de fato, prejudica o serviço. Dados financeiros, porém, podem explicar as razões estruturais do problema.

A Enel São Paulo gastou 22,3% menos que o previsto em pessoal, materiais e serviços nos últimos 12 meses e investiu abaixo do observado em distribuidoras vizinhas. O resultado dessa conta é comemorado pelos acionistas: se há menos despesa, sobra mais lucro.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) monitora os principais indicadores financeiros das distribuidoras. Como regulador, a Aneel acompanha os dados para monitorar a situação do setor e mensurar custos que serão repassados ao consumidor na conta de luz.

A análise desse relatório revela que a Enel SP opera com eficiência financeira agressiva.

Em 12 meses até setembro de 2025, a Enel SP gastou R$ 3,056 bilhões em pessoal, materiais, serviços e outros – indicador que usa a sigla PMSO. O valor é 22,3% inferior ao estimado pela Aneel, que previa R$ 3,933 bilhões no mesmo período.

A Aneel projeta o gasto PMSO como o necessário para manter o serviço de pé e repassa o custo para a tarifa paga do consumidor. Esse valor é, efetivamente, pago na conta de luz pelos clientes. Mas quando a distribuidora gasta menos que o estimado pelo regulador, a diferença vira lucro.

Segundo a Aneel, a Enel SP gastou R$ 877 milhões menos que o previsto em pessoal e materiais nos últimos 12 meses.

Para entender essa decisão, é só olhar para o recreio de uma escola.

É como se a estimativa da Aneel fosse o dinheiro dado pela mãe ao filho. Ele recebe o dinheiro para o lanche, mas gasta menos e embolsa o troco. O problema é saber se, com a escolha, a criança ficou com fome. No caso da energia, a dúvida é óbvia: o valor foi suficiente para levar a energia aos consumidores?

Entre as 51 distribuidoras acompanhadas pela Aneel, a Enel SP aparece como a 9ª que mais cortou gastos e acumula despesa abaixo do estimado pelo regulador.

A redução da despesa da Enel – de 22,3% - é muito maior que a média de 3,8% de todas as distribuidoras do Brasil. Ou seja, a empresa tem sido mais agressiva na redução dessas despesas.

Ranking do investimento

Outro indicador monitorado pela Aneel trata do investimento. A agência calcula quanto as distribuidoras investem e comparam com a depreciação da própria rede.

É como comparar os gastos de um motorista com a manutenção de um carro, e se esse valor consegue compensar o envelhecimento das peças e do veículo.

Nesse indicador, a Enel SP aparece com 71,9%. Entre 51 empresas, a distribuidora que atende a capital paulista apresenta o 48º melhor resultado. Ou, se você preferir, o 4º pior indicador do Brasil.

No ranking, a empresa só está à frente de distribuidoras em Roraima, Amazonas e a Light, que está em recuperação judicial.

A CNN procurou a Enel SP sobre o desempenho nos dois indicadores – PMSO realizado versus regulatório e o Capex/QRR – e aguarda a resposta.

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