Jussara Soares
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Jussara Soares

Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

Brasil fala em "prudência" e vê longo processo de retomada de laços com EUA

Após conversa entre Lula e Trump, governo brasileiro evita falar em otimismo, mas aposta em profissionalismo de Marco Rubio

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (e) e presidente Donald Trump (d)  • Montagem CNN
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Embora considerada positiva, a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o americano Donald Trump ainda está longe de ser uma vitória, avaliam integrantes do governo brasileiro.

Integrantes do Itamaraty e do Palácio do Planalto disseram à CNN Brasil que o telefonema entre os presidentes é o primeiro passo de um longo processo de reconstrução de laços entre Brasil e Estados Unidos após meses de desgastes, e evitam falar em otimismo.

A ordem no governo brasileiro é seguir atuando com "calma" e "prudência", evitando ansiedade e mantendo a discrição que marcou as negociações desde o encontro de Lula e Trump na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), no dia 23 de setembro, em Nova York, até o telefonema desta segunda-feira (6).

À CNN Brasil, diplomatas também minimizaram a indicação do secretário de Estado americano, Marco Rubio, como interlocutor do governo Lula para avançar nas negociações.

A avaliação é que Rubio, sob ordens de Trump, atuará com profissionalismo e diplomacia, embora, no auge da crise, tenha sido porta-voz de ataques contra o Brasil.

Integrantes do governo observam que desde que o presidente dos EUA disse no palco da ONU ter tido "boa química" com Lula, as publicações de assessores do governo americano contra o Brasil se encerram, além do diálogo ter sido desobstruído.

A direita brasileira admitiu revés com o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro ter ficado de fora do telefonema entre Lula e Trump, mas aposta que Rubio possa evitar um recuo nas medidas adotadas contra o Brasil, como a sobretaxa de 40% a produtos brasileiros e as sanções contra autoridades, em especial o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Após a conversa na manhã de segunda-feira, Lula disse ter recebido o telefonema de Trump e que, na conversa de 30 minutos, relembraram "a boa química" que tiveram no encontro na ONU.

"Considero nosso contato direto como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente", publicou Lula nas redes, informando que eles trocaram telefones.

Por sua vez, Trump, em publicação na Truth Social, disse ter gostado da ligação com Lula, confirmou que haverá novas discussões e afirmou que ambos devem se encontrar em um "futuro não tão distante", tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

Mais tarde, em declaração na Casa Branca, o presidente americano voltou a dizer que teve uma "ótima conversa com Lula" e cogitou viajar ao Brasil.

"Nós tivemos uma ótima conversa e vamos começar a fazer negócios", disse. "Em algum momento, eu iria ao Brasil. E ele virá aqui. Estamos conversando sobre isso", completou.