Seguir com a vida e fazendo jornalismo após o diagnóstico de câncer
Quero ter força e voz também para ajudar a cobrar um tratamento mais digno para nós mulheres atropeladas por essa doença
Há três meses eu não apareço por aqui. Não coincidentemente, faz três meses que recebi o diagnóstico de câncer de mama. Minha vida virou de cabeça para baixo.
Os primeiros meses foram terríveis. Dias sem vontade de levantar da cama, sem querer conversar com ninguém, sem força para pensar em trabalho.
Me vi imersa em uma tentativa sem fim de encontrar uma razão lógica para esse câncer – não tenho histórico na família, 36 anos, exames em dia… Mas a verdade é que não encontrei e nem encontrarei o porquê.
Agora, me resta apenas lidar com essa nova realidade em que me encontro: paciente com câncer de mama triplo negativo estágio 2. Esse tipo de câncer é um dos tipos mais agressivos e que se espalham mais rapidamente.
Felizmente, consegui começar o tratamento com certa rapidez e temos boas expectativas sobre a possibilidade de cura. Faltam ainda mais 11 sessões de quimioterapia, cirurgia, radioterapia, acompanhamento regular. É torcer para que tudo dê certo.
Esse diagnóstico está exigindo muito não apenas do meu corpo, mas também me desafia a seguir vivendo apesar da doença. O que, para mim, significa fazer jornalismo apesar do câncer.
Passadas as sessões de quimioterapia mais pesadas (conhecidas como quimioterapia vermelha), espero aparecer mais por aqui com as apurações de sempre. E trazer também um olhar voltado ainda mais para a saúde de todas nós, mulheres.
O Outubro Rosa passou apenas para quem a vida não foi impactada por essa doença. Não para nós, as mais de 70 mil mulheres que receberam ou receberão esse diagnóstico em 2024 aqui no Brasil — segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Somos milhares atropeladas pelo diagnóstico de câncer, cada vez mais novas e muitas vezes sem uma rede de apoio e tratamento digno.
Milhares lutando para ter acesso ao que pode levar à cura. No Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, não há disponível a imunoterapia — medicamentos para estimular o sistema imunológico a combater as células cancerígenas. Terapia essa que é uma das minhas principais esperanças de que meu tratamento dará certo.
Somos milhares tentado seguir com a vida, apesar e para além do diagnóstico de câncer de mama. Milhares que precisam ser ouvidas, apoiadas, ter acesso aos tratamentos de ponta, apoio de seus familiares e das suas empresas.
Daqui do meu privilegio, espero ter força e ser voz para ajudar a cobrar um tratamento mais digno para nós mulheres vivendo com câncer, mas não definidas por essa doença.