Com mandado do STF, PF prende empresário perseguido pelo regime turco
Mustafa Goktepe é o terceiro turco alvo de pedidos de extradição nos últimos 6 anos; os outros dois foram absolvidos

A Polícia Federal (PF) cumpriu nesta quarta-feira (30) em São Paulo ordem de prisão contra o empresário turco naturalizado brasileiro Mustafa Goktepe, pertencente ao movimento Hizmet.
A organização é classificada como “terrorista” pelo autocrata turco Recep Tayyip Erdogan, que a acusa de estar por trás de uma suposta tentativa de golpe em 2016.
É a terceira vez que o regime turco tenta a extradição de integrantes do Hizmet no Brasil. Nas outras duas, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou os pedidos.
Nenhum país a não ser a Turquia qualifica o Hizmet como terrorista, e pedidos de extradição desse tipo costumam ser recusados ao redor do mundo. Erdogan controla a Justiça da Turquia, onde o devido processo legal e a liberdade de expressão foram abolidos.
O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi preso em março, sob acusações, sem provas, de "corrupção, extorsão, suborno, lavagem de dinheiro e apoio ao terrorismo”. É a segunda vez que o popular prefeito é preso, por ser o maior expoente da oposição.
O pedido omite o fato de que Goktepe é naturalizado brasileiro desde 2012. O empresário de 47 anos é casado com uma brasileira e tem duas filhas. Ele é dono de uma rede de restaurantes de comida turca, que emprega mais de cem pessoas, e dirige duas escolas.
Em 2019, Ali Sipahi, sócio de Goktepe, foi preso nas mesmas circunstâncias: o regime turco acionou a difusão vermelha da Interpol, e o STF ordenou sua prisão.
Em 2022, foi a vez de outro empresário, Yakup Sagar. Ambos foram absolvidos pelo STF. A prisão de Goktepe foi ordenada pelo ministro Flávio Dino.
O advogado Beto Vasconcelos, o mesmo que defendeu Sagar, deve entrar ainda nesta quarta-feira com o pedido de revogação da prisão.
Goktepe dirige o Instituto pelo Diálogo Intercultural, que promove a cooperação entre as diversas religiões, etnias e culturas, e administra duas escolas no Brasil.
O Hizmet foi fundado por inspiração do líder sufi Fethullah Gülen, que entrevistei em 2016 na Pensilvânia, e morreu no ano passado. O sufismo é uma corrente moderada do Islã, que defende o diálogo entre as religiões.
"Hizmet" significa "serviço" em turco. O movimento tinha uma ampla rede de escolas e entidades filantrópicas, que conheci na Turquia, sustentada por doações de empresários e pelas receitas das mensalidades das escolas e universidades que dirigia.
Depois de uma suposta tentativa de golpe, em 2016, que nunca foi bem explicada, Erdogan passou a perseguir Gülen e o movimento Hizmet, na busca de um inimigo para justificar sua perpetuação no poder.
Os governos de Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden rejeitaram os pedidos de extradição de Gülen, por perceberem que se tratava de perseguição política.