Promessa de indulto sugere ação ideológica de Trump contra narcotráfico
Presidente americano acha “dura demais” condenação de ex-governante hondurenho acusado de traficar 500 toneladas de cocaína para os EUA

Os bombardeios de barcos no Caribe e no Pacífico Oriental e as ameaças de ataque à Venezuela parecem ter três motivações por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: o combate ao narcotráfico, a projeção de poder na região e a imposição de alinhamento ideológico. Mas, qual o peso de cada uma?
A promessa de Trump de indultar o ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, condenado por um tribunal de Nova York a 45 anos de prisão por facilitar o tráfico de 500 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, dá uma pista a respeito.
Trump fez o anúncio na sexta-feira, antevéspera das eleições em Honduras, ao mesmo tempo em que manifestou apoio ao candidato Nasry "Tito" Asfura, aliado de Hernández.
O presidente americano explicou que, segundo pessoas nas quais ele confia, a Justiça foi “dura demais” com Hernández.
A postura entra em contradição com a política de Trump de ordenar o bombardeio de lanchas, que já matou 80 pessoas suspeitas de narcotráfico.
Ou seja, o presidente acha justa a execução sumária de pessoas que nem se sabe se são realmente traficantes, mas não a prisão de alguém que comprovadamente possibilitou a entrada de drogas nos Estados Unidos.
O paradoxo desaparece, no entanto, quando se levam em conta duas questões.
Em primeiro lugar, o bombardeio das lanchas não é uma forma eficaz de combater o narcotráfico.
A tática convencional, do emprego de lanchas da Guarda Costeira para abordar barcos suspeitos, confiscar eventuais drogas, deter e interrogar tripulantes, permite investigar a complexa cadeia que vai do plantio à distribuição das drogas, e com essa inteligência adotar medidas realmente contundentes.
Além disso, Trump tem sido ideologicamente seletivo em sua alegada campanha de combate ao narcotráfico.
A Venezuela não é sequer citada no relatório do ano passado do Escritório sobre Drogas da ONU, porque não produz narcóticos e seu território não é um ponto de passagem relevante para o narcotráfico.
Em contrapartida, o Equador é um país dominado por narcotraficantes, que chegaram a matar o candidato a presidente Fernando Villavicencio em 2023.
A diferença entre os dois países é que a Venezuela é governada por uma ditadura de esquerda e o Equador, por um presidente de direita, democraticamente eleito.



