Luciana Taddeo
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Luciana Taddeo

Correspondente de América Latina, sediada há mais de 10 anos na Argentina. Amante da arquitetura de Buenos Aires, do merken chileno e do ají de gallina. Morou na Venezuela.

Juiz nomeado por decreto por Milei renuncia à Suprema Corte da Argentina

Nomeação gerou alegações de ameaça a separação de poderes e foi rejeitada pelo Senado

Presidente da Argentina, Javier Milei, com a faixa e o cetro presidencial no dia de sua posse
Presidente da Argentina, Javier Milei  • 15/09/2024 - REUTERS/Agustin Marcarian
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Pouco mais de um mês após ser nomeado por Javier Milei, por decreto, para integrar a Suprema Corte da Argentina, o acadêmico Manuel García-Mansilla renunciou, nesta segunda-feira (7), ao cargo.

A saída do magistrado ocorre dias após o Senado do país rejeitar seu nome para integrar a cúpula de juristas do mais alto tribunal do país.

“Agradeço pela oportunidade que me deu de poder servir meus concidadãos. Apesar de ter gostado de fazê-lo por mais tempo e em outras circunstâncias, minha permanência no cargo não irá facilitar a integração da Corte Suprema”, expressou, na carta de renúncia dirigida a Javier Milei.

Na última quinta-feira (7), o Senado da Argentina, que tem poder de vetar nomeações de juízes por decreto, rejeitou dois nomeados por decreto de Milei para a Suprema Corte, em um revés para o líder libertário.

Em resposta, o presidente argentino acusou os legisladores de politizar a votação e chamou o Senado de “máquina de impedir”, que “não atua a favor do povo, mas tem como único objetivo obstruir o futuro da Nação Argentina”.

A nomeação do atual juiz federal Ariel Lijo e o acadêmico García-Mansilla por decreto para integrar a Suprema Corte foi amplamente questionada por juristas, opositores e setores políticos.

Manuel Garcia-Mansilla (primeiro à esquerda) e os juízes Ricardo Lorenzetti, Carlos Rosenkrantz e Horacio Rosatti • REUTERS/Matias Baglietto 1/3/2025
Manuel Garcia-Mansilla (primeiro à esquerda) e os juízes Ricardo Lorenzetti, Carlos Rosenkrantz e Horacio Rosatti • REUTERS/Matias Baglietto 1/3/2025

García-Mansilla chegou a ser impedido, por medida cautelar de um juiz federal, de tomar decisões como magistrado da Suprema Corte durante três meses.

Na carta de renúncia, García-Mansilla disse que aceitou a nomeação “com a convicção de que a falta de integração da Corte Suprema era um grave problema institucional que exigia uma solução urgente” e criticou a falta de dois integrantes do tribunal desde dezembro de 2024.

“É francamente surpreendente que, apesar da importância e do peso que cada juiz tem em um tribunal com uma integração tão reduzida, tivesse se naturalizado a existência de uma vaga sem preencher durante um lapso de tempo tão prolongado”, expressou.

Questionamentos

A nomeação por decreto dos dois juízes por Milei, sem prévia aprovação do Legislativo, gerou preocupação em diferentes setores da sociedade, por alegações de violação da Constituição e de que coloca em risco a independência judicial.

A relatora especial da ONU sobre Independência de Magistrados e Advogados, Margaret Satterthwaite, chegou a afirmar que "a nomeação judicial por decreto presidencial estabelece um perigoso precedente ao priorizar estas nomeações, erosionando a transparência e limitando as vias de escrutínio público e de impugnação".

Em 2015, Macri também decretou a nomeação de juízes, mas nenhum dos dois assumiu o cargo antes da aprovação pelo Senado.

De acordo com a Constituição da Argentina, a designação de magistrados para a Suprema Corte é uma atribuição do presidente da República, mas requer assentimento de dois terços dos membros presentes do Senado.

Após o decreto de Milei e sem prévia aprovação legislativa, García-Mansilla assumiu o posto. Lijo, no entanto, não chegou a tomar posse já não obteve licença do cargo de juiz federal.