Campo de jogo virou bagunça no futebol brasileiro
Confusão provocada por gandula em Palmeiras x São Paulo é apenas parte do problema. Tem muita gente dentro de campo que não deveria estar ali
A confusão que estourou ao fim do clássico em que o Palmeiras venceu o São Paulo por 2 a 1, pelo Campeonato Brasileiro, reforça a discussão sobre um problema sério do futebol nacional: a invasão do campo de jogo por gente que não deve estar ali.
Terreno sagrado, que deveria ser reservado aos personagens do jogo e a mais ninguém, o campo é seguidamente usurpado por invasores alheios à disputa. Além disso, personagens periféricos teimam em buscar um protagonismo que não lhes pertence.
Gandula é o encarregado de buscar as bolas que saem do campo do jogo. Ele é orientado a deixar as bolas no chão para que o jogo seja reiniciado rapidamente. O termo foi criado com base na história do jogador argentino Bernardo Gandulla, que passou sem brilho pelo Vasco na virada da década de 1930 para a de 1940. Reserva que raramente jogava, Gandula passou a buscar as bolas que saíam de campo para mostrar serviço.
No Brasil, os gandulas se prestam a uma série de “espertezas” que nem no futebol de várzea acontecem mais. São orientados a sumir com as bolas quando o time está ganhando, passam recados de treinadores, atiçam a torcida e provocam jogadores adversários. Houve casos de gandulas que discutiram com atletas e ameaçaram repórteres de campo durante o jogo.
Por um período, uma experiência foi adotada em São Paulo, com mulheres estudantes de Educação Física atuando como gandulas. Vale uma nova experiência para desanuviar o ambiente e expulsar baderneiros.
A invasão do campo de jogo e seu entorno por influenciadores, youtubers e figuras que não deveriam estar ali é outro tema sensível. Circulam pela internet centenas de vídeos de produtores de conteúdo que ocupam posições privilegiadas dentro de campo e desfilam impropérios após gols ou lances polêmicos.
Preocupados com a repercussão política de conteúdos publicados por influenciadores com milhões de seguidores, dirigentes de clubes facilitam acesso a vestiário, campo de jogo e abrem a porta para a publicação de conteúdos provocativos e ofensivos.
Está na hora de a Confederação Brasileira de Futebol agir. Tomar as rédeas da situação, disciplinar e profissionalizar o acesso ao campo de jogo e punir severamente quem se comporta de forma inadequada. Inclusive treinadores e integrantes de comissão técnica chiliquentos. Para esses, suspensões parecem não incomodar. Talvez multas pesadas e cumulativas façam com que a dor no bolso alerte a consciência.