As respostas de John Textor, do Botafogo, às perguntas do blog
Dono da SAF do clube carioca se posicionou diante das questões levantadas aqui na sexta-feira (8)


Inicialmente, agradeço a gentileza do principal acionista do Botafogo, o empresário norte-americano John Textor, ter respondido com educação e elegância às minhas dez perguntas feitas aqui no blog sobre suas denúncias de manipulação de resultados no futebol brasileiro.
Isso comprova apenas o que eu já presumia, que Textor tem intenções genuínas de aprimorar os processos do futebol no Brasil. Além de sua educada resposta ser um comportamento raro para dirigentes nos dias de hoje. Agradeço novamente.
Permito-me uma tréplica* para esclarecer alguns pontos da resposta do empresário, principalmente quando ele diz que uma pergunta minha foi “editorial”. Confira as respostas de John Textor.
*O número relaciona a tréplica à respectiva resposta de cada pergunta.
- 1 – Textor afirma estar surpreso pelo fato de o árbitro cuja voz capturada em uma gravação de suposta propina ainda estar na ativa. Essa resposta diverge da versão da entrevista dada a um canal ligado ao Botafogo, quando ele fala do sotaque do árbitro e sugere que seja carioca. Afinal, Textor sabe ou não quem é o árbitro? Se sabe, denunciou seu nome diretamente às autoridades?
- 2 – O empresário afirma que o áudio é irrelevante para a alegação de manipulação de resultados. Ora, se é irrelevante, por que tem tanto destaque em suas declarações?
- 3 – Textor diz que a identidade do árbitro é bem conhecida das autoridades e que a suposta manipulação aconteceu numa divisão inferior. Mas a ênfase em um jogo específico do Campeonato Brasileiro de 2022, entre Fortaleza e Palmeiras seria uma indicação de coincidência com sua denúncia? Porque citar um jogo de Série A se a denúncia específica é de uma “divisão inferior”?
- 4 – Se é irrelevante saber se houve efetivamente uma propina e se ela foi concretizada pelos supostos corruptos e corruptores, e não há conhecimento disso, não fica tudo um pouco vago?
- 5 – Em sua resposta à minha quinta pergunta, o empresário disse: “A empresa global que utilizamos para confirmar a manipulação de resultados já trabalhava no Brasil, para outros clientes, antes de ser contratada pelo Botafogo. Foi essa empresa, sem o nosso envolvimento, que identificou um jogo de 2022 na Série A, e notificou a CBF – novamente, antes do nosso envolvimento. Estamos apenas antecipando isso agora, porque acreditamos que a CBF deveria ter levado isso mais a sério, o que poderia ter evitado nossos graves problemas em 2023. Porém, para ser claro, tenho certeza de que 2022 foi igualmente sério para as equipes afetadas em 2022. A manipulação de resultados afeta a todos”. Se tinha conhecimento do fato anteriormente e, como acredito que seja sua intenção genuína prestar um serviço ao futebol brasileiro, porque só demonstrou incômodo quanto à manipulação de resultados quando teve “graves problemas” e não antes?
- 6 e 7 – Importante notar que, assim como eu, o senhor considera apropriado saber por que a gravação não foi investigada anteriormente. Concordamos na busca pelo melhor para o futebol brasileiro. O senhor afirma que a gravação lhe foi fornecida por uma pessoa de credibilidade? Com base em que parâmetro essa credibilidade é atestada?
- 8 – Caro Textor, é, sim, uma pergunta esta que fiz, a de número oito. Não é comentário editorial. O contexto é claro. Se pelo que entendo de suas respostas havia conhecimento do suposto esquema em 2022 e a motivação de denunciá-lo só veio após o ocorrido com o Botafogo em 2023, parece-me plausível questionar se essa foi a motivação principal, e não somente o legítimo desejo de melhorar o futebol brasileiro.
- 9 – Em 7 de dezembro de 2023 o senhor publicou uma nota de repúdio a uma outra nota da presidente do Palmeiras, Leila Pereira. Reproduzo aqui um trecho de sua nota: “Nunca sugeri que ela fosse pessoalmente responsável pelas ações curiosas e pelas forças externas que apoiam o sucesso de sua equipe.”. Com base nessa referência explícita ao que o senhor classifica de “ações curiosas” e chama de “forças externas” reservo-me o direito de reafirmar que a pergunta é uma pergunta jornalística de repórter e sem nenhum cunho editorial.
- 10 – Em 11 de novembro de 2023, o senhor publicou um texto em seu site reclamando da expulsão de Adryelson contra o Palmeiras, da qual destaco o trecho: “Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo”. Novamente aqui há uma referência a um jogo do Botafogo da Série A de 2023. Embora o senhor afirme em sua resposta que as denúncias não têm relação com o Botafogo, o senhor sempre volta ao tema desta expulsão em um jogo do Botafogo, o que credencia a pergunta.
Uma vez mais agradeço sua educação e gentileza em responder. Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas espero que isso ocorra um dia. Será um prazer contar histórias da longa batalha travada por vários jornalistas esportivos brasileiros contra a corrupção no futebol. Também quero fazer algumas perguntas sobre Mark Twain.
Tenho profundo respeito pela instituição da qual o senhor se tornou acionista majoritário. Ela é, inclusive, responsável em parte pela minha paixão em trabalhar com jornalismo esportivo, dado o fascínio que tinha pela dupla Fischer e Ferretti em minha infância.
Abraços!