Maurício Noriega
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Maurício Noriega

Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

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Brasil x Estados Unidos: Marta deveria ou não voltar para a final?

Para mim, não. A Seleção encontrou uma forma de jogar sem a Rainha, que sempre será uma arma importante, mesmo no banco

Marta perdeu os últimos dois jogos do Brasil na Olimpíada por suspensão
Marta perdeu os últimos dois jogos do Brasil na Olimpíada por suspensão  • Alex Gottschalk/DeFodi Images via Getty Images
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A surpreendente e empolgante classificação do Brasil para a final olímpica do futebol feminino deixou no ar uma questão polêmica. Expulsa contra a Espanha na fase de grupos, Marta foi suspensa por duas partidas. Curiosamente, sem a Rainha o Brasil encontrou seu melhor jogo, derrotou França e Espanha e retornou à final do torneio após 16 anos.

Penso que Marta deve começar no banco. Mas admito que, em termos de roteiro e emoção, seria maravilhoso que, em sua provável despedida, ela atuasse o jogo todo e fosse a melhor em campo, recebendo a medalha de ouro em Paris. Marta que é a única remanescente das equipes que ficaram com a prata em 2004 e 2008, perdendo para os Estados Unidos nas duas finais.

Não se discute o talento e a importância de Marta. Ela foi eleita seis vezes a melhor do mundo. Também não se discute que o time brasileiro melhorou sem ela. Ficou mais competitivo. Com Marta parecia que o time estava preso à necessidade de se adaptar a sua grande jogadora. Sem ela, ficou mais fácil para o Brasil encaixar um jogo de pressão na saída de bola das adversárias e exploração da velocidade de suas atacantes nos contragolpes.

Na derrota para as espanholas na fase de grupos, o Brasil atuou com cinco defensoras, quatro meio-campistas (Marta entre elas) e apenas Kerolin no ataque. A equipe brasileira teve somente 17% de posse de bola, segundo números do Sofascore. Não criou chances claras de gol e viu o adversário finalizar 28 vezes contra o gol da excelente Lorena.

Nas quartas, contra a França, o técnico Arthur Elias mexeu no sistema de jogo e adotou um 3-4-2-1. Adriana atuou pelo setor de meio-campo pelo lado direito, onde jogava Marta. Gabi Portilho e Jheniffer deram suporte a Gabi Nunes à frente.

A posse de bola subiu para 42%, o Brasil finalizou em 11 ocasiões e teve quatro chances claras. Foram 22 desarmes.

Na revanche contra as espanholas, campeãs mundiais, Arthur Elias escalou Ludmila e Yasmin como meio-campistas abertas pelos lados de campo, trouxe Jheniffer para uma posição avançada e deixou Gabi Portilho no ataque. Houve força para tirar a bola das espanholas, que têm dificuldade para jogar sem posse, e explorar a lentidão das defensoras. O Brasil teve 24% de posse de bola e, mais importante, conseguiu 32 desarmes. Prevaleceu a competitividade que estava faltando.

Marta tem 38 anos e não se pode exigir dela a entrega física de Gabi Portilho, Ludmila, Gabi Nunes e Jheniffer. Seria um desperdício a Rainha correr atrás de adversárias. Ela precisa ter a saúde preservada em campo para fazer o que sabe como ninguém: criar. Mas o time brasileiro não é criativo, é reativo.

Arthur Elias é um treinador capaz de encontrar a melhor solução. Muitas decisões são difíceis. Pode ser que o Brasil jogue sem Marta e vá mal, perdendo o ouro. Assim como a Rainha pode sair jogando e ser a melhor em campo.

Longe de mim fazer qualquer reparo ao currículo de Marta.

Torneios curtos como a Olimpíada muitas vezes pedem que se escute o que o campo fala. O que o treinador brasileiro pensava não deu certo. Durante o caminho as dificuldades apresentaram uma alternativa que funcionou. A lógica diz que o melhor seria não mexer em time que está ganhando. Mas como deixar no banco a maior da história em uma final?

A bola está com Arthur Elias. Que ele tome a decisão que dê certo, e eu festeje o erro em minha opinião.

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