Pedro Côrtes
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Pedro Côrtes

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

Análise: Inevitável, aval do Ibama à Petrobras veio em péssima hora

Reservas da Petrobras duram pouco mais de dez anos, o que explica o aval do Ibama para novas pesquisas na Margem Equatorial. Mas o timing foi péssimo para as negociações na COP30.

Vista de rio na região da Margem Equatorial
Margem Equatorial: Petrobras e Ibama fecham acordo sobre último teste para exploração de petróleo  • Djalma Sena / CNN
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Empresas de mineração trabalham com investimento intensivo em capital e com um planejamento de longo prazo. É necessário prever — e acreditar — que o bem explorado continuará a ser atraente não apenas nos próximos anos, mas nas próximas décadas.

O petróleo se enquadra nessa condição que exige planejamento de longo prazo e grandes volumes de investimento. Sempre considerando a possibilidade de que uma região pesquisada não tenha o seu potencial econômico comprovado.

É uma atividade de risco, mas este é reduzido com o desenvolvimento de estudos avançados (e onerosos) que buscam avaliar, com antecedência, o potencial de uma área.

A Petrobras se encontra em uma situação de risco, pois suas reservas conhecidas devem durar pouco mais de dez anos. Esse é um horizonte muito curto para qualquer empresa do seu porte. Especialmente considerando a condição de que ela praticamente explora uma única commodity.

Ela até pode redirecionar investimentos para outros tipos de atividade, mas isso demanda tempo e nem sempre as novas opções vão gerar o retorno obtido com petróleo e gás.

Considerando esse cenário e também a condição de maior empresa nacional — com todo o potencial de alavancar outros setores da economia — não restava outra opção ao governo a não ser autorizar o prosseguimento das atividades de pesquisa na Margem Equatorial.

Isso não significa que há petróleo ou gás em quantidades e condições economicamente viáveis naquela área. É parte de um processo que poderá levar a isso. Mas a geologia pode ser muito caprichosa.

O óleo pode ter se acumulado mais próximo da Guiana do que do Brasil. Isso somente será determinado com o prosseguimento das atividades de pesquisa que foram autorizadas.

Timing errado

Faltando menos de três semanas para o início da COP30, o aval do Ibama veio em péssima hora. O Brasil tem se notabilizado por ser o país mais avançado em transição energética. Com o etanol, temos um programa extremamente exitoso de biocombustível.

Essa ação tem seguimento, mais recentemente, com o biodiesel e também com o Combustível Sustentável de Aviação (SAF — Sustainable Aviation Fuel). Temos, adicionalmente, fontes renováveis e diversificadas de geração de energia elétrica. Todo um catálogo de soluções tecnológicas e experiências no desenvolvimento de políticas públicas poderá ser exibido na COP30.

Com os EUA podendo bater recorde de produção de petróleo este ano e a OPEP+ sinalizando com o aumento da produção, os preços internacionais tendem a baixar. Diante de um cenário econômico incerto, com tarifas restritivas sendo aplicadas e renegociadas, há a perspectiva de que países desacelerem programas de transição energética ao poderem contar com petróleo e gás a preços mais baixos. Portanto, a tão necessária migração para fontes limpas e renováveis pode perder ímpeto nos próximos anos e a COP30 poderá testemunhar esse refluxo.

O Brasil, como campeão em energias renováveis e projetos de transição energética, poderia aproveitar melhor a COP30 para vender mais e melhor essa condição. Ao antecipar uma decisão inevitável, o governo dilui o impacto simbólico que poderia ter na COP30, um evento onde o Brasil poderia liderar a transição, e não ter que justificar retrocessos.

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