Petroleiras americanas cortam empregos mesmo com produção em alta
Setor busca preservar lucros e se adaptar à transição energética, em meio à queda dos preços e ao avanço da automação

As grandes empresas de petróleo dos Estados Unidos vivem um momento de contradição: produzem volumes recordes, mas estão demitindo milhares de trabalhadores. Companhias como ExxonMobil, Chevron, ConocoPhillips e BP reduziram investimentos e enxugaram equipes em meio à queda do preço do barril.
O objetivo é preservar a rentabilidade e atender à pressão dos acionistas.
Historicamente, o setor é marcado por ciclos de expansão e retração. Quando o preço do petróleo sobe, há contratações e novos projetos; quando cai, os cortes se multiplicam. Desta vez, porém, o movimento é mais estrutural do que conjuntural.
As petroleiras estão adotando uma postura de “disciplina financeira”, priorizando dividendos e recompra de ações em vez de investir na exploração de novos poços. Estimativas indicam que, na última década, um em cada quatro postos de trabalho do setor foi extinto.
A tecnologia tem papel central nessa transformação. Máquinas automatizadas, sensores e sistemas de inteligência artificial tornaram a extração mais eficiente, mas também mais enxuta em relação à demanda por mão de obra.
Paralelamente, as fusões e aquisições entre grandes companhias levaram à eliminação de cargos duplicados, enquanto parte dos serviços técnicos e administrativos foi terceirizada para países com custos menores, como Índia e Filipinas.
Outro fator determinante é a transição energética global. Diante da pressão por fontes mais limpas e redução de emissões, algumas petroleiras vêm redirecionando recursos para tecnologias de captura de carbono e biocombustíveis, e evitando ampliar a produção tradicional.
A combinação de preços instáveis, automação e mudanças no modelo de negócio aponta para um futuro em que lucro, inovação e sustentabilidade precisam coexistir, ainda que isso custe mais empregos no presente.
Impactos na COP30
O atual cenário de queda nos preços do petróleo pode ter reflexos importantes nas discussões da COP30, especialmente sobre o ritmo da transição energética e a redução global de emissões.
Com o barril mais barato, cresce o risco de que países e empresas adiem investimentos em energias renováveis, já que os combustíveis fósseis voltam a parecer economicamente mais vantajosos no curto prazo.
Esse movimento pode enfraquecer o compromisso político com metas de descarbonização e dificultar a construção de acordos ambiciosos.
Por outro lado, o preço baixo também pode servir de alerta: se o mercado de petróleo continuar volátil e com retorno financeiro incerto, a diversificação para fontes limpas torna-se uma estratégia de segurança econômica, e não apenas ambiental.
Assim, na COP30, o desafio será convencer governos e empresas de que a transição energética precisa avançar independentemente das flutuações do mercado, sob pena de comprometer tanto a estabilidade climática quanto a competitividade futura.