Papa Leão XIV: conflitos ambientais marcam a sua trajetória
Parte da trajetória eclesiástica de Robert Francis Prevost deu-se como bispo no Peru. Foi entre 2015 e 2023 que ele viveu em Chiclayo, uma cidade marcada por conflitos e problemas socioambientais.


Quando os cardeais reunidos em conclave elegeram Robert Francis Prevost como novo pontífice, muito se questionou sobre se ele manteria as linhas de ação e ideias do Papa Francisco. Uma das preocupações foi com o posicionamento ambiental do agora Papa Leão XIV. Embora não haja uma declaração específica sobre questões ambientais ou sobre a crise climática, sua trajetória no Peru oferece elementos importantes para uma análise sob essa perspectiva.
Chiclayo, capital da região de Lambayeque, no norte do Peru, enfrenta uma crise ambiental persistente. A cidade convive diariamente com o acúmulo de lixo nas ruas, resultado da coleta irregular e da ausência de um sistema adequado de destinação de resíduos.
O distrito de José Leonardo Ortiz, situado a aproximadamente 1,5 quilômetros do centro da cidade de Chiclayo, enfrenta uma crise ambiental causada por falhas sistêmicas na gestão de resíduos e no colapso da infraestrutura de saneamento. As ruas do distrito permanecem cobertas de lixo não coletado devido a serviços de descarte irregulares e instalações de processamento inadequadas.
Esse acúmulo de resíduos cria riscos à saúde pública, transformando-se em criadouros de vetores de doenças, como mosquitos e roedores. Além disso, o sistema de esgoto obsoleto do distrito frequentemente apresenta vazamentos de águas residuais não tratadas em áreas residenciais, expondo as comunidades à contaminação e aumentando os surtos de dengue, doenças de pele e infecções gastrointestinais.
O rápido crescimento urbano sobrecarregou os já precários serviços públicos de Chiclayo, com expansões de infraestrutura incapazes de acompanhar o aumento populacional. Apesar das repetidas promessas do governo para resolver a crise, melhorias concretas ainda não foram implementadas, aumentando a frustração entre os moradores.
Protestos comunitários tornaram-se mais frequentes, com os cidadãos exigindo soluções de longo prazo em vez de medidas temporárias. A situação em José Leonardo Ortiz reflete desafios semelhantes aos de outras cidades médias do Peru, onde os problemas ambientais e o planejamento inadequado perenizam ciclos de riscos à saúde e degradação urbana.
Foi com essa realidade que o Papa Leão XIV conviveu durante oito anos que ele viveu em Chiclayo, entre diversas passagens pelo Peru. Ele teve sua trajetória marcada pelo serviço aos mais vulneráveis. Durante sua missão pastoral no Peru, dedicou-se ao cuidado das comunidades carente da região de Chiclayo e promoveu iniciativas de assistência social, educação e saúde.
Portanto, ele conviveu diariamente com os resultados da degradação socioambiental daquela região. Como bispo em uma região profundamente afetada por desigualdades sociais e degradação ambiental, Leão XIV desenvolveu sua ação pastoral em diálogo com comunidades que sofriam não somente com a pobreza, mas também com os impactos dos problemas ambientais.
Seu trabalho junto à Cáritas Peru e outras organizações locais incluiu apoio a projetos de segurança alimentar, promoção da saúde e defesa de direitos básicos, como o acesso à água potável e ao saneamento. Embora nunca tenha se projetado como uma liderança ambientalista no sentido estrito, sua atuação revela uma sensibilidade às questões socioambientais entendidas como parte de uma missão integral da Igreja.
Esse compromisso silencioso com a justiça socioambiental aproxima Leão XIV da visão proposta por seu antecessor, o Papa Francisco, especialmente na encíclica Laudato Si’, que propõe uma “visão integral” que unifique o cuidado com a criação e a dignidade dos mais pobres.
A experiência concreta de conviver com os efeitos da crise ambiental no cotidiano de Chiclayo pode influenciar suas futuras decisões como pontífice. Ainda que não tenha se pronunciado publicamente sobre temas como mudanças climáticas ou transição energética, sua trajetória sugere que sua liderança pode reforçar a presença da Igreja em temas socioambientais.