As novas tarifas de Trump estão afetando a transição energética dos EUA?
Os mercados globais tentam assimilar as tarifas anunciadas por Donald Trump e um dos setores potencialmente mais afetados é o de tecnologias ligadas à transição energética


A China tem se notabilizado pela produção de equipamentos ligados à transição energética, desde baterias e painéis fotovoltaicos até veículos elétricos. Muito do que se usa em projetos de transição energética é produzido na China, inclusive alguns modelos de veículos de montadoras europeias.
As sobretaxas impostas por Donald Trump pretendem penalizar a China para reduzir o déficit na balança comercial americana e que, em uma conta bem simplista, não consideram que a China é um dos grandes compradores de títulos do Tesouro dos EUA.
Parte dos produtos sobretaxados — ou potencialmente sobretaxados, pois as notícias mudam a cada momento — são itens que compõem equipamentos ligados à transição energética. Placas solares, baterias, equipamentos de rede estão na mira do governo Trump.
O objetivo principal dessas altas tarifas é neutralizar a vantagem de custo da indústria chinesa, limitando sua penetração no mercado americano.
No entanto, essa “guerra tarifária” acaba gerando efeitos colaterais na cadeia produtiva de energia limpa dos EUA, a qual é profundamente integrada ao mercado global e ainda dependente de componentes chineses. Assim, enquanto a medida busca proteger a indústria local, ela também eleva custos e desafia a transição energética no país.
Por exemplo, as tarifas impostas têm provocado aumentos significativos nos preços das baterias nos EUA, impactando diretamente a competitividade de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia. Mas, será que o governo Trump está apreensivo com isso? Vejamos.
Pesquisa climática
O governo Trump propôs cortes drásticos no orçamento da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), visando eliminar a pesquisa climática da agência. A NOAA, por exemplo, é a grande responsável por consolidar os dados de temperaturas oceânicas e as previsões de diversos institutos internacionais e referendar a ocorrência de fenômenos climáticos como o El Niño ou La Niña.
A proposta de redução de verbas inclui o fim do Oceanic and Atmospheric Research (OAR), também conhecido como NOAA Research. Essa divisão de pesquisa serve como o centro de inovação científica da NOAA, desenvolvendo tecnologias e conhecimentos para aumentar a resiliência ambiental e promover o crescimento econômico sustentável.
As pesquisas abrangem desde fenômenos atmosféricos até sistemas marinhos complexos, incluindo a investigação de eventos climáticos extremos como furacões e tornados, alterações nas correntes marítimas, mudanças na camada de ozônio e a saúde dos ecossistemas costeiros.
O conhecimento climático tem ganhado importância estratégica para a coordenação da produção agropecuária, gestão da infraestrutura urbana voltada para eventos como chuvas extremas ou ondas de calor e controle adequado dos recursos costeiros.
A redução de recursos para a NOAA irá comprometer a geração de conhecimento científico fundamental para o enfrentamento da crise climática, mas o governo Trump não se mostra sensibilizado por essa questão.
Os impostos sobre itens e equipamentos que impactam em maiores custos para as tecnologias relacionadas à transição energética, assim como a redução de verbas para pesquisas climáticas, não deveriam surpreender ninguém. Como citei no início do ano, “Drill, baby, drill. Isso resume tudo”.