Pedro Côrtes
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Pedro Côrtes

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

COP30

COP30: Para Bill Gates, a temperatura não importa

Tem repercutido a fala de Bill Gates de que melhorar vidas importa mais que reduzir emissões ou temperaturas, como se esses fatores não estivessem associados

Bill Gates
Bill Gates, fundador da Microsoft  • Foto: Yuri Gripas/Reuters
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Bill Gates é um nome histórico na história do desenvolvimento das Tecnologias da Informação e é um grande financiador de projetos relacionados às mudanças climáticas. Portanto, seu posicionamento importa, especialmente às vésperas da COP30.

Recentemente, ele publicou um artigo em defende que, mais do que reduzir emissões, o foco deve ser melhorar vidas e reduzir o sofrimento, priorizando os mais pobres e vulneráveis. Argumenta que a pobreza e as doenças continuam sendo as principais ameaças e as mudanças climáticas, embora graves, são apenas parte desse desafio.

Nesse raciocínio há um erro conceitual. Não podemos ignorar a elevação média da temperatura do planeta, pois ela induz uma série de alterações na dinâmica climática. Ondas de calor extremo, secas prolongadas, tempestades, enchentes e uma série de distúrbios que impactam a todos, especialmente os mais pobres.

Em que pese um aporte significativo de recursos para mitigação das mudanças climáticas, fato que ainda não aconteceu no montante necessário, as alterações podem facilmente sair do controle. E não é alarmismo. Há um consenso entre os cientistas sobre esse risco.

É importante lembrar que esse é um tema que tem sido pesquisado intensamente desde 1970, quando foi publicado o trabalho “Carbon Dioxide and its Role in Climate Change” pelo pesquisador George S. Benton da Universidade Johns Hopkins.

Isso sem considerar trabalhos precursores publicados nos anos 1950. Portanto, há mais de 50 anos se pesquisa as alterações climáticas provocadas pelo uso intensivo de combustíveis fósseis.

O combate às mudanças climáticas reduz a exposição dos grupos mais vulneráveis aos eventos extremos. Também diminui a incidência de doenças relacionadas ao desmatamento e às alterações climáticas. Além disso, reduz o risco de impactos significativos na produção de alimentos.

Desconsiderar o aumento da temperatura global é fechar os olhos para a principal causa do sofrimento que o próprio Gates busca combater. Promover uma vida melhor exige, antes de tudo, conter o aquecimento do planeta, requisito essencial para assegurar saúde, alimento e dignidade às populações mais vulneráveis. Sem estabilidade climática, o bem-estar torna-se inviável.