Influência do La Niña gera alerta para aumento dos casos de dengue
Com as mudanças climáticas, número de casos de dengue tende a permanecer elevado


A dengue, assim como a zika, a chikungunya e a febre-amarela, é uma doença transmitida pelo Aedes aegypti, um mosquito que se prolifera muito bem em ambientes úmidos e quentes. Portanto, parece correto presumir que em climas ou estações onde essas características predominam ocorra um aumento na população do Aedes aegypti e, consequentemente, dessas doenças.
El Niño e La Niña
O clima no Brasil é fortemente influenciado pelos fenômenos El Niño e La Niña. O primeiro provoca aumento de chuvas e temperatura na Região Sul e em parte da Região Sudeste. Nas regiões Norte e Nordeste há uma tendência de redução significativa do volume de chuvas. O La Niña, por sua vez, gera efeitos contrários, com estiagem e temperaturas mais amenas no Sul e em parte do Sudeste e aumento de chuvas no Norte e Nordeste.
Portanto, seria correto supor que em épocas de El Niño o número de casos de dengue aumentasse no Sul e Sudeste, enquanto o La Niña provocaria um efeito contrário. O gráfico a seguir nos fornece uma perspectiva de como tem sido a ocorrência dos casos de dengue nos últimos quinze anos com a indicação do fenômeno predominante (El Niño, La Niña ou neutralidade).

No gráfico, foram destacados os anos em que pelo menos meio milhão de casos foram notificados (à exceção de 2014, com 499 mil, e 2021, com 441 mil). As barras vermelhas (condição de El Niño) destacam-se por serem as maiores. Embora a percepção inicial seja de um maior número de casos durante o El Niño, há barras azuis que se destacam e indicam um número elevado de casos quando da ocorrência do La Niña (2011, 2022 e 2023) e também em fase de transição (2013, 2014 e 2021).
Qual é o padrão?
Embora seja correto o pressuposto de que o El Niño favoreça a ocorrência de casos de dengue (pelo calor e pela chuva), durante o La Niña o inverso (redução de casos) nem sempre se verifica. Durante o período analisado, há anos em que durante a ocorrência do La Niña houve uma redução de casos (2012, 2017 e 2018). Em outros anos com o fenômeno La Niña (2011, 2022 e 2023), o número de casos foi equivalente ao verificado em períodos de El Niño.
Haveria um padrão? Sim, quando temos um El Niño há um aumento do número de casos. Esse seria o padrão. O inverso, a redução de casos durante o La Niña, nem sempre acontece. O mesmo se passa em períodos de transição, entre fases de neutralidade e o La Niña.

Número de casos em 2025
É importante considerar que a variável climática, embora importante, não é a única a ser considerada. Há vírus que se propagam mais facilmente do que outros. O governo trabalha com a possibilidade de termos em 2025 um número ainda maior de casos do que no ano passado, quando tivemos um recorde absoluto de notificações.
Oficialmente estamos sob os efeitos do La Niña. Não é correto, entretanto, supor que ocorra uma redução do número de casos diante de um clima com temperaturas mais baixas e menor volume de chuva nas regiões Sul e Sudeste (em parte).
Em 2022 e 2023, tivemos um elevado número de casos, mesmo sob os efeitos do La Niña. Em 2013, período de transição como o verificado no final do ano passado, também houve um número elevado de notificações. É correto trabalharmos com a perspectiva de um número elevado de também este ano, por haver precedentes que justificam isso.
Juntamente com as condições climáticas, devemos considerar que após 17 anos o sorotipo 3 do vírus da dengue voltou ao Brasil. Com uma ausência prolongada, grande parte da população não possui imunidade contra essa variante, aumentando a suscetibilidade à doença. Isso reforça a necessidade de medidas preventivas, pois a vacinação em massa ainda não estará disponível em 2025.