O que é Programação Neurolinguística (PNL), citada como estratégia de Pablo Marçal?
Método que explora os 'neurônios espelho' é polêmico entre acadêmicos, médicos e cientistas
Nos últimos dias, o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, o coach Pablo Marçal, sugeriu que usaria métodos de ‘PNL’ para duelar contra os adversários, especialmente nos debates programados para o primeiro turno. “Inclusive tem gente já cancelando as idas nos próximos debates, porque sabe que se entrar na minha frente vai levar. Vou usar técnicas novas de PNL para quem aparecer lá. Vai ser um debate dinâmico, sempre um novo a cada encontro, vai ser bem divertido. Imagina, oito encontros”, disse ele numa entrevista coletiva na noite dessa quinta-feira (22).
A sigla PNL se refere à ‘Programação Neurolinguística’. É uma técnica usada para mentorias e treinamentos da qual o coach é adepto. Os mentores que trabalham com o PNL são organizados em grupos e participam de eventos como palestras e congressos. Um desses grupos, a Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística, define a prática como “o estudo da estrutura da experiência subjetiva do ser humano” ou “uma metodologia que foca no alcance da excelência, ou seja, auxilia uma pessoa a atingir os resultados que deseja em sua vida, criando modelos a partir de atitudes de sucesso”.
Os registros mais antigos de PNL são do começo dos anos 1970 com o estudante de psicologia Richard Bandler e o professor de linguística John Grinder atuando em conjunto na Universidade de Santa Cruz – Califórnia. Hoje, a técnica é usada por empresários e políticos brasileiros, que passam dias em jornadas de imersão.
Segundo Gilberto Cury, presidente da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística, a PNL “é uma abordagem de comunicação e desenvolvimento pessoal que estuda a relação entre a mente, a linguagem e o comportamento.
Cury acrescenta que a PNL “busca entender como nossos pensamentos e padrões linguísticos influenciam nossas emoções e ações, proporcionando técnicas para reprogramar a mente e alcançar objetivos mais eficazmente. Amplamente utilizada em áreas como terapia, coaching e negócios, a PNL oferece ferramentas práticas para melhorar a comunicação, resolver conflitos e promover mudanças positivas no comportamento humano.”
PNL para políticos
O administrador Delmar Reschke já participou de eventos e fez mentorias com algumas dessas pessoas, mas não quis revelar à CNN os adeptos da técnica. Ele se apresenta como ‘Master Trainner em PNL’ e afirma que a técnica poderia ser, sim, usada em debates eleitorais por meio do que chama de ‘metamodelo de linguagem’ que sai ‘da estrutura superficial da comunicação e busca a estrutura profunda da essência’ da comunicação.
“Eu, sim, já desenvolvi esse trabalho com algumas pessoas desse mundo político, mas sempre com o foco dessa pessoa melhorar a sua performance na comunicação, ou seja, se expressar de maneira mais clara, quebrar alguns padrões de comportamento, romper algumas crenças que se tem sobre a política, algum modelo de forma de trabalho para algo mais proativo, mais positivo. Então é um contexto muito gigante”, conta Reschke. Ele explica que o método também pode ser usado para ‘mudar o modelo mental’ e a ‘forma de trabalhar’ das equipes de um candidato, por exemplo.
Especialistas ouvidos pela CNN citam como um dos objetivos do método PNL explorar os chamados ‘neurônios espelho’, que fazem com que o ser humano tenda a imitar o outro. Eles são ativados, por exemplo, quando você vê alguém bocejando e acaba tendo vontade bocejar. Neste caso, seria sentir as dores e angústias do outro e reproduzi-las em seus pensamentos e ações, como uma forma de criar empatia com o interlocutor.
A bacharel em direito Suelen Petry fez uma mudança de carreira e hoje é especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e também ‘Master Trainer em PNL’. Ela diz que hoje trabalha exclusivamente treinando líderes de grandes companhias. Ela sugere que o método PNL, ainda que não conscientemente, pode ter sido usado por Barack Obama na campanha para presidente dos Estados Unidos, uma vez que ele incorporou o cenário de desesperança e provocou um processo de conexão, afinidade e simpatia com o eleitor por meio do discurso do “Yes, we can” (Sim, nós podemos).
“Na campanha do Pablo, o que eu percebo? Ele mapeou uma dor, que é uma dor das pessoas em relação ao sistema, de não acreditarem no sistema, de ele ser essa pessoa sem filtro, essa pessoa que diz o que as pessoas querem dizer, mas que não tem a oportunidade de dizer, e como ele tem o próprio dinheiro, uma pessoa tecnicamente self-made, uma pessoa que se fez, que não depende de ninguém, pelo menos no discurso dele, as pessoas se identificam com isso, pelo menos tem alguém falando por nós, tem alguém ali olhando por nós, então há uma identificação”, sustenta a especialista em PNL.
“As técnicas […] são muito eficazes neste lugar. De construir uma narrativa […] onde as pessoas se identificam com o discurso que eu estou trazendo, e a partir daí elas derrubam mesmo, é natural, derrubam o sistema de defesa e eu consigo manipular as pessoas através de um discurso. Então é basicamente esse, e o paralelo que eu faço é esse. E eu até trouxe um contraponto do Obama, porque eles são de lugares diferentes, mas para mostrar que é uma técnica utilizada por todo mundo de uma forma geral que se propõe a construir uma narrativa que seja eficaz”, completa.
Polêmica entre cientistas
A Programação Neurolinguística, no entanto, não encontra grande respaldo entre acadêmicos e cientistas. “Há uma série de estudos de boa qualidade que não foram capazes de reproduzir os resultados iniciais, da década de 70, época em que foi idealizada. Hoje, virou uma ferramenta na mão de pessoas que servem como instrutores no mundo corporativo, os chamados “coaches”. As técnicas são muito diferentes, mesmo entre os que dizem aplicar a PNL, e não podem ser resumidas de maneira homogênea”, opina o neurologista Tarso Adoni, médico assistente do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP.
“É preciso tomar cuidado porque, muitos dos chamados programadores neurolinguísticos, utilizam evidências científicas sérias para justificar práticas que não se sustentam por essas mesmas evidências. Por exemplo, a descoberta dos chamados neurônios em espelho, que até poderiam explicar a capacidade empática evolutiva do Homo sapiens, mas não são capazes, mesmo que por meio de um pretenso treinamento, tornar as pessoas mais empáticas a uma determinada causa ou político”, completa.