Análise: a Pensilvânia seria a Minas Gerais americana?
Estados são considerados pêndulos nas eleições e podem ajudar a definir o presidente eleito
Os fãs do philly cheasesteak e do pão de queijo têm motivo para se gabar. Os estados que ostentam as iguarias são termômetros das eleições nacionais, seja nos Estados Unidos ou no Brasil. A Pensilvânia, terra do saboroso sanduíche de carne com queijo, foi também o destino escolhido por Kamala Harris e Donald Trump para protagonizarem seus últimos atos de campanha.
Não é por menos: o estado pode definir as eleições dos EUA. Definir mesmo. Os 19 delegados contam muito em uma disputa apertada onde a meta é reunir 270 delegados para ocupar a cadeira mais importante do mundo.
Essa história de um estado ser decisivo e funcionar como termômetro para as eleições de presidente nós já conhecemos bem. Assim é Minas Gerais. Lula, Dilma, FHC, Bolsonaro e Collor tiveram que vencer no estado para conseguir conquistar o país.
Há uma série de semelhanças entre Pensilvânia e Minas Gerais. O estado americano tem 13 milhões de habitantes e é o quinto maior colégio eleitoral do país. Com 20,5 milhões de habitantes, Minas só perde pra São Paulo, é o segundo mais populoso do Brasil. Tanto a Pensilvânia quanto Minas Gerais agregam a mistura de áreas super urbanizadas, com alta densidade demográfica, quanto grandes regiões rurais, bem como uma boa mistura ideológica de eleitores.
A diferença do resultado das eleições local e nacionalmente mostra como o eleitorado mineiro reflete a dinâmica de pensamento do povo brasileiro. Na reeleição de Lula (PT), em 2006, foram 65% dos votos em Minas e 60% no país. A votação foi radicalmente diminuída para o terceiro mandato, conquistado em 2022. O presidente levou 50,2% dos votos mineiros e 50,9% dos votos no país. A diferença entre Lula e Bolsonaro foi de pouco mais de 2 milhões de votos. Só em Minas, Lula e Bolsonaro conquistaram mais de 6 milhões de votos cada e a diferença foi de menos de 50 mil votos.
Em 2018, no entanto, foi Bolsonaro que ganhou em Minas, com maioria mais folgada. Foram 58% dos votos no estado e 55% no país. Dilma Rousseff também teve percentuais próximos no seu estado natal e no Brasil. Em 2010 fez 56% em Minas e 58% no Brasil. Em 2014 diminuiu a vantagem, para 52% em Minas e 51% no Brasil. À época, o adversário era Aécio Neves, que governou o estado.
Apenas uma única vez na história a tradição não se concretizou –para a exceção provar a regra. Foi em 1950, com Getúlio Vargas eleito presidente mesmo tendo perdido para Cristiano Machado em Minas. Machado era natural de Sabará, interior do estado.
Voltando aos Estados Unidos, os resultados da Pensilvânia podem demorar a chegar, gerando uma apreensão geral. Há quem aposte que a totalização dos votos só seja concluída na sexta-feira (8). O cenário é imprevisível. Uma pesquisa do Washington Post divulgada na última semana aponta a vice-presidente Kamala Harris com 48% dos eleitores da Pensilvânia e o ex-presidente Donald Trump com 47%.
Ao olhar pro cenário americano, o fenômeno se repete. Obama, Trump e Biden venceram na Pensilvânia e no país. Os percentuais também se assemelham. Na vitória mais folgada de Obama, ele teve 54% na Pensilvânia e 52,9% no país, isso em 2008. Na reeleição, em 2012, a vantagem diminuiu: 51,9% no estado e 51,1% no país.
Em 2016, a Pensilvânia muda de lado e elege Donald Trump, mas com uma maioria apertadíssima. Ele obteve 48,1% dos votos no estado contra 47,4% de Hillary. A diferença foi de 44 mil votos. Em número absoluto Hillary Clinton até se saiu melhor, conquistando 48% dos eleitores em todo país, mas sem a maioria dos delegados não conseguiu a vitória nacional.
Das duas uma: ou as eleições americanas vão quebrar a regra das últimas quatro eleições ou a Pensilvânia vai perpetuar-se soberana, tal qual Minas Gerais, ajudando a coroar o próximo presidente dos Estados Unidos –mas sem pão de queijo.
CNN Brasil faz supercobertura ao vivo
A CNN Brasil realiza uma supercobertura da disputa entre Kamala Harris e Donald Trump pela Casa Branca nas eleições americanas, que ocorrem nesta terça-feira (5).
Em conexão direta com a matriz americana da CNN, e intérpretes a postos para tradução 24 horas, o conteúdo produzido nos Estados Unidos estará contemplado pela multiplataforma que compõe o ecossistema da CNN Brasil.
A maratona ao vivo 24 horas começou na segunda-feira (4), às 23h, com o programa especial “América Decide”, e se estenderá ininterruptamente até que seja proclamado o resultado das urnas.