Pedro Duran
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Pedro Duran

O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

Descubra quanto custa um bebê reborn - e por que eles são tão caros

Bonecos podem ser comprados em pronta entrega ou encomendados com características especificas, para reproduzir uma pessoa real

Simone, Bruna e Ana Pietra: as três são "mães" de bebês reborn  • Reprodução
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Cabelos colocados fio a fio. Olhos importados do Japão. Veias e manchas de frio pintadas com pincéis ultrafinos. Chupetas conectadas a imãs internos. Unhas levemente esculpidas com ferramentas minúsculas. A arte que imita a realidade tem um preço alto. Para alguns, altíssimo.

Os bebês reborn, que viraram febre e pautaram polêmicas na internet nos últimos dias, custam até R$ 15 mil de acordo com consultas feitas pela CNN com artesãs de todo o Brasil.

Um dos motivos para isso é o material. Bonecas de tecido custam mais barato do que as de vinil siliconado. "Os materiais têm uma variação de preço dependendo de onde a artista compra, qual tinta ela usa, qual kit do bebezinho, qual cabelinho ela implanta, qual tipo de óleos ela coloca, enfim, existe essa variação", explica Ana Pietra Gavioli.

A artista “reborn” de São Paulo já bateu 1,4 milhões de seguidores no Tiktok com o canal @piih_reborn. Ela explica que do silicone às tintas, tudo impacta no valor "Os bebês de silicone sólido são os bebês mais caros, são aqueles bebezinhos que tem o corpinho inteiro, que é o único que pode dar banho, porque ele não tem emenda nas articulações", diz.

Ana Pietra Gavioli com seus bebês reborn • Reprodução/Redes Sociais
Ana Pietra Gavioli com seus bebês reborn • Reprodução/Redes Sociais

"Então nós temos investimento em tintas, em vernizes para poder selar todo esse processo de pintura, tem que ser verniz de qualidade, pra que consiga, enfim, preservar toda essa pintura, toda essa técnica que a gente aplicou no bebezinho", completa.

O objetivo é "alcançar o realismo", explica Simone Fortuna. A empresária tem um site com o nome dela e o canal @sifortuna nas redes sociais. Com as bonecas a pronta entrega, ela fatura de R$ 30 mil a R$ 40 mil por mês. A artista de Campo Grande (MS) ainda dá três cursos para quem tem interesse em iniciar na "arte reborn".

"A principal diferença entre um bebê reborn e uma boneca normal está no nível de realismo e no trabalho artesanal. Cada reborn é feito em vinil siliconado ou silicone, manualmente por artistas, o que torna cada um único. São dias de produção com várias camadas de pintura para alcançar o realismo das veias, pele, cabelinho implantado a mão fio a fio, etc", explica Simone. "Já as bonecas normais são feitas de plástico, fabricadas industrialmente em grande escala", completa.

Empresária Simone Fortuna com seu bebê reborn • Reprodução/Redes Sociais
Empresária Simone Fortuna com seu bebê reborn • Reprodução/Redes Sociais

Os bebês reborn da artista Vera Emerenciano chegam a custar R$ 15 mil. Ela tem pontos de venda em 18 lojas de roupas e acessórios infantis e juvenis - 17 delas estão em Pernambuco, na capital, Recife, onde Vera mora, e nas regiões metropolitanas e agreste. A décima oitava fica em Maceió, Alagoas. E ainda há projeto de abrir mais três pontos em 2025. Ela também vende pelas redes no canal @beberebornartes, com 78 mil seguidores.

A artista diz que o público que compra os bebês é bastante variado. "Para ter um bebê reborn não precisa de idade, sabe? Eu já vendi pra bebês na barriga, que nem nasceram ainda, como a primeira boneca da bebê, para quando ela nascesse, ter uma boneca, como vendi para uma senhorinha de 99 anos, que chegou na minha loja e disse que o sonho dela sempre foi ter um bebê reborn", conta Vera.

Vera Emerenciano com seu bebê reborn •
Vera Emerenciano com seu bebê reborn •

A indústria dos bebês reborn, em franca expansão no Brasil, não conta com dados específicos de mercado ou pesquisas que revelem seu tamanho. Artesãs ouvidas pela CNN falam que hoje elas são mais de 150 no país e garantem que a prática tem se popularizado cada vez mais.

A origem desses produtos também não conta com uma documentação histórica de qualidade, mas os relatos apontam que essa indústria tem suas origens após a Segunda Guerra Mundial, quando mulheres usavam as bonecas para diminuir o luto das perdas ocasionadas pelas mortes.

Anos depois, na década de 1990, as bonecas da marca Berenguer passaram a ser modificadas artesanalmente, para aprimorar os traços, num processo batizado de "reborning", ou "renascimento".

Há 12 anos a artesã Bruna Graciotto desenvolve esse trabalho com a ajuda do marido. Ela explica que a técnica evoluiu e a prática foi ganhando outras características, com itens importados. "Décadas depois, nos anos 90, essa prática evoluiu para o que conhecemos hoje como 'arte reborn': um trabalho artesanal e minucioso que transforma kits de vinil em verdadeiras obras de arte, feitas para tocar o coração", detalha ela.

A conta dela no Instagram (@shopbeberebornoficial) conta com 137 mil seguidores e a artesã vende seus produtos até para artistas, em preços que podem chegar a R$ 12 mil. Eventualmente a loja é chamada de "maternidade", os bebês são enviados com uma bolsa plástica e um líquido dentro, imitando um parto empelicado, quando o bebê nasce dentro do saco amniótico intacto. Até por isso, algumas artistas se autodenominam "cegonhas", em referência ao animal que, na lenda, é quem entrega os bebês.

"Então, quando alguém diz que é ‘loucura’ ter um bebê 'reborn', talvez ainda não entenda que essa arte foi criada justamente para acolher a dor que o mundo não soube escutar. A arte reborn é ancestral, simbólica, terapêutica. É sobre amor, memória e resgate. E eu tenho orgulho de ser parte disso", completa ela.

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