MP investiga 26 guardas-civis por milícia na Cracolândia; entenda
Guardas receberiam parte do rateio pago por comerciantes para proteger comércio
O Ministério Público de São Paulo investiga a participação de pelo menos 26 agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) da capital paulista em uma milícia supostamente formada para coagir e extorquir comerciantes na região da Cracolândia, no centro da cidade.
O prosseguimento da investigação foi autorizado pela Justiça em um processo que corre na 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro. Nos últimos dias, o juiz Leonardo Valente Barreiros negou a soltura de dois acusados que foram presos em operações recentes da Polícia Civil.
Os indícios apontam que o esquema acontece desde 2019. Os comerciantes, vistos pelo MP como vítimas, estavam em uma lista que levava o nome de “Colaboradores de boa-fé” e foi apreendida pela polícia. Os 22 guardas investigados seriam beneficiários do rateio de dinheiro pago por eles para fornecer segurança privada aos estabelecimentos do centro de São Paulo.
A CNN apurou que o valor da mensalidade para cada estabelecimento comercial variava bastante, podendo chegar a R$50 mil.
“Os primeiros relatos apontam que os guardas-civis tocavam o fluxo. Eles usavam os adictos para aqueles comerciantes que não contribuíam. Tem relatos inclusive que eles jogavam fezes dentro da porta desses comerciantes e forçavam esses comerciantes a aderir o pagamento dessa mensalidade, dessa taxa de segurança”, contou à CNN o promotor Juliano Atoji.
Quatro guardas foram denunciados e presos, mas uma foi solta depois de uma decisão da Justiça por ser mãe e ter filhos pequenos. A investigação segue mirando outros 22 GCMs.
Atoji afirma que o poder público falhou no combate à ação ilegal dos guardas. “Houve, sem dúvida alguma, conivência por parte do poder público, ou omissão por parte do poder público. Agora, não se pode neste momento, hoje, afirmar se houve dolo omissivo ou uma simples omissão de fiscalização desses guardas civis do grupo especializado da Guarda Civil Metropolitana”.
Há ainda outra denúncia que mira GCMs envolvidos no comércio de armas de fogo na região. Dos cinco acusados que foram denunciados, dois são guardas que seguem na ativa e um terceiro é ex-GCM e seria o comandante do esquema.
No início do mês, dia em que uma das fases da operação foi deflagrada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse não conhecer a atuação de milícias na GCM.
“A prefeitura desconhece milícia na cidade de São Paulo e tem regime rígido com a GCM. Temos 7.500 homens e mulheres para defender o cidadão da cidade. Nós temos dois GCMs [presos na operação] que foram expulsos da Guarda Civil. Um deles, a prefeitura pediu a prisão ao MP, tal o rigor da cooperação. Não vai ser, um dois, quatro, cinco que vão manchar 7.500 GCMs”, afirmou ele.
Questionada pela CNN sobre o tema, a Prefeitura de São Paulo informou que protocolou um pedido na Justiça para ingressar como assistente de acusação no processo envolvendo os servidores da GCM. “Dos quatro agentes citados anteriormente, dois foram exonerados e dois estão afastados sumariamente. Em relação aos 22 novos investigados, todos estão afastados das ruas, em atividades administrativas, até a conclusão processual.”