Pedro Duran
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O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

Câmara de São Paulo coloca exposição sobre cannabis "na geladeira"

Com cartazes "de costas", mesa diretora da Câmara vê exposição como polêmica e impede exibição; organizadores falam em boicote
Exposição sobre cannabis na Câmara dos Vereadores de São Paulo com totens e banners escondidos  • Reprodução
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Mais de duas semanas depois do pedido para uma exposição sobre cannabis, a Câmara dos Vereadores de São Paulo segue mantendo totens e banners escondidos dos olhares de quem circula pelo parlamento paulistano.

O pedido foi feito no dia 2 de abril, pelo vereador Adriano Santos, do PT.

Depois, a Câmara pediu informações complementares, enviadas no dia 4 de abril. Até agora, no entanto, a mesa diretora não chegou a uma decisão sobre liberar ou não a exposição para os visitantes e funcionários.

A anuência de pelo menos três dos cinco vereadores que compõem a mesa é necessária, mas nunca foi um problema, segundo vereadores ouvidos pela CNN.

A polêmica é inédita e acontece, não por acaso, em um ano eleitoral. "Toda cessão de uso de espaço da Câmara, independentemente do tema, precisa de autorização da Mesa Diretora por meio da maioria do colegiado", diz a nota enviada pela Câmara para a CNN.

A exposição é do Instituto InformaCann e já passou tanto pela Câmara dos Deputados, em Brasília, quanto pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

"É uma exposição educativa, que tem a madeira do cânhamo, alimentos não psicoativos, que não contém o CDB, THC, que não contém moléculas medicinais, mas sim a semente que é altamente nutritiva. Eles não querem que a gente mostre do que uma fibra sustentável é capaz, por pura ignorância", disse à CNN a fundadora do InformaCann, Manuela Borges.

Os totens e banners produzidos falam sobre o uso do cânhamo, caule da planta da maconha, para a produção de tecidos e bioplásticos, além da madeira e das sementes da planta para uso alimentar.

Exposição barrada sobre cannabis na Câmara dos Vereadores de São Paulo / Reprodução
Exposição barrada sobre cannabis na Câmara dos Vereadores de São Paulo / Reprodução

"Até onde eles vão ignorar e negar uma planta medicinal?", questiona Manuela.

A Câmara alega que a mesa diretora tem até 30 dias para tomar esse tipo de decisão, o que ainda não ocorreu. E diz que um dos pontos em avaliação é que a exposição inclui material comercial e de propaganda de produtos, "o que é um impeditivo para uso do espaço da Câmara e também demanda mais análise por parte da Mesa".

Já os organizadores dizem que a intenção da exposição é estritamente educativa – e não comercial.

A CNN apurou que, dos cinco vereadores que compõem a mesa, dois já se manifestaram contrários à exposição. São parlamentares que contam com o voto evangélico e acham a pauta muito sensível. Um terceiro vereador defende que ela seja realizada.

O desempate pode vir do presidente, Milton Leite (União Brasil), cotado para ser vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB), que ainda não bateu o martelo.

A exposição é apoiada por associações que produzem a cannabis para fins medicinais, como a Flor da Vida, de Franca, interior de São Paulo. Enor Machado é presidente da entidade e se envolveu no debate após ver um sobrinho ser diagnosticado com autismo.

"É importante para o desenvolvimento da indústria e do agronegócio. O maior potencial do mundo para produção de cânhamo está no Brasil. E a gente não planta uma planta sequer no país. China e Estados Unidos já cultivam de forma milenar", disse ele à CNN.