Priscila Yazbek
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Priscila Yazbek

Correspondente em Nova York, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

Lula e Trump vão à Assembleia da ONU, mas não devem se reunir, dizem fontes

Brasil recebeu diversos convites para reuniões bilaterais em Nova York, mas não dos Estados Unidos

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Apesar de a Assembleia Geral da ONU marcar a primeira vez em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente americano, Donald Trump, estarão no mesmo lugar desde o anúncio do tarifaço e das sanções aplicadas pelos EUA a autoridades brasileiras, os líderes não devem se reunir reservadamente, segundo fontes do governo.

Durante sua participação na semana de alto nível em Nova York, a partir da próxima segunda-feira (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve manter encontros bilaterais com chefes de Estado e de governo e com o secretário-geral da ONU.

Porém, não houve movimentação para uma reunião com Donald Trump, de nenhuma das partes, segundo interlocutores.

Fontes diplomáticas e do governo, que organizam a agenda do presidente brasileiro nos Estados Unidos, afirmaram que diversos convites para encontros com Lula foram feitos, mas nenhum por parte da diplomacia americana. Da mesma forma, a diplomacia brasileira não enviou um pedido de reunião ao governo Trump.

O Brasil normalmente não solicita encontros bilaterais durante a assembleia porque a agenda é muito sobrecarregada e há muitos eventos agendados pela ONU, diz uma fonte. A diplomacia brasileira, portanto, costuma receber convites, e não pedir.

Um interlocutor afirmou à reportagem que, pela projeção internacional de Lula, novamente o Brasil recebeu "muitíssimos pedidos", mas só poderá atender a poucos deles, pela exiguidade do tempo.

Outra fonte afirma que os encontros são marcados às pressas, nas janelas entre os eventos multilaterais, para casar as agendas das autoridades e "muitas vezes você marca um que nem é o mais importante, porque o mais importante não deu certo".

Apesar de não ser a praxe os encontros partirem do Brasil, a assembleia acontece em meio à escalada de tensões entre Brasil e Estados Unidos, desencadeada pelo tarifaço de Donald Trump e o anúncio de sanções políticas a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e outras autoridades brasileiras.

Fontes do governo brasileiro já vinham dizendo que, desde a imposição das tarifas de 50% sobre o Brasil, o cenário tem sido de difícil interlocução, sem canais consolidados na diplomacia americana e com um clima hostil para buscar diálogos sobre temas bilaterais.

Cúpulas à margem da Assembleia Geral da ONU

O desencontro entre Lula e Trump também deve ser evidenciado nas cúpulas que acontecerão à margem da assembleia, em três delas especialmente.

A primeira é a "Conferência para a Implementação da Solução de dois Estados", no dia 22 de setembro, onde dez países reconhecerão o Estado Palestino.

A segunda é a reunião de líderes progressistas "Em defesa da democracia, combatendo o extremismo", organizada por Chile, Brasil e Espanha, no dia 24. E a terceira é "Cúpula do Clima", também neste dia, organizada pelo secretário-geral da ONU, com apoio do presidente Lula.

O Brasil ajudou a planejar ou teve papel central nos três eventos, que não devem contar com a presença de Donald Trump.

Fontes diplomáticas inclusive disseram que o governo brasileiro já espera algum ataque de Trump às cúpulas, de forma semelhante ao que ocorreu durante o encontro do Brics no Rio de Janeiro em julho, quando o republicano ameaçou sobretaxar os países do grupo.

Discursos de Lula e Trump devem contrastar

Os discursos de Lula e Trump na abertura da assembleia também devem expor os contrastes entre os dois presidentes.

O presidente brasileiro deve evitar mencionar diretamente o republicano, mas deve rejeitar sanções unilaterais, defender a soberania nacional e o multilateralismo, se contrapondo ao americano, que deve reforçar a postura isolacionista do seu "America First".