Priscila Yazbek
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Priscila Yazbek

Correspondente em Nova York, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

Oscar 2025 tem manifestações políticas sobre Gaza, Ucrânia e Trump

Da menção de Walter Salles à ditadura militar à defesa dos imigrantes de Zoe Saldaña, veja sete momentos políticos do Oscar 2025

Estatuetas do Oscar
97ª edição do Oscar aconteceu no domingo (2)  • Al Seib/A.M.P.A.S. via Getty Images
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O Oscar é uma grande celebração ao cinema, mas alguns artistas e produtores também aproveitam os holofotes de Hollywood para expressar posicionamentos políticos.

A cerimônia realizada neste domingo (2) não foi marcada por nenhuma manifestação de grande repercussão, mas foi permeada por menções sobre os conflitos em Gaza e na Ucrânia e referências a questões políticas como a ditadura militar no Brasil e a crise migratória nos Estados Unidos.

Walter Salles lembra a luta contra a ditadura militar

Ao receber a premiação de Melhor Filme Internacional, por "Ainda Estou Aqui", o diretor Walter Salles dedicou o prêmio à Eunice Paiva, cuja história inspirou o livro que deu origem ao filme.

Ela dedicou 40 anos de sua vida à busca pela verdade sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, assassinado em janeiro de 1971, durante a ditadura militar no Brasil.

"Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir. Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva", disse Salles, que também dedicou o prêmio a Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

Zoe Saldaña homenageia imigrantes

Zoe Saldaña homenageou a avó dela ao receber o prêmio de melhor atriz coadjuvante por seu papel em “Emilia Pérez”. A atriz, que também interpretou "Avatar", disse que é a primeira americana de ascendência dominicana a ganhar um Oscar, mas que não será a última.

"Minha avó veio para este país em 1961. Sou uma filha orgulhosa de pais imigrantes com sonhos, dignidade e mãos trabalhadoras. E sou a primeira americana de origem dominicana a receber um Oscar, e sei que não serei a última", afirmou.

"E o fato de estar recebendo um prêmio por um papel em que pude cantar e falar em espanhol, minha avó, se estivesse aqui, ficaria muito feliz. Isto é para minha avó", destacou Saldaña.

O discurso acontece em meio ao endurecimento das políticas anti-imigração do governo do presidente americano Donald Trump.

“Emilia Pérez” recebeu 13 indicações ao Oscar, mas sua campanha perdeu força depois que tuítes ofensivos da indicada a melhor atriz Karla Sofia Gascón foram trazidos à tona no início do ano.

Atriz de Kill Bill diz "Glória à Ucrânia"

Daryl Hannah, atriz de Kill Bill, protagonizou um dos momentos mais políticos da cerimônia, quando subiu ao palco para apresentar o prêmio de Melhor Edição.

Ao se aproximar do microfone, a atriz americana, de ascendência sueca, fez um sinal de paz com as mãos e disse: "Slava Ukraini!", que em português significa "Glória à Ucrânia!".

A expressão é usada como um grito de guerra patriótico entre os ucranianos há gerações.

Anfitrião cita contraste entre Trump e Anora na relação com russos

Os comentários de Hannah não foram a única referência à guerra no Leste Europeu.

O anfitrião Conan O'Brien havia dito que não faria comentários políticos durante a cerimônia. Mas referindo-se ao grande vencedor da noite, o filme "Anora", disse: “Acho que os americanos estão animados para ver alguém finalmente enfrentar um russo poderoso.”

Anora é uma profissional do sexo do Brooklin, interpretada por Mikey Madison, vencedora da categoria de melhor atriz. A protagonista luta ferozmente contra seus sogros, oligarcas de Moscou.

A menção de O'Brien evoca o contraste entre a postura combativa de Anora e a recente aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin, presidente da Rússia, inimiga diplomática de longa data dos Estados Unidos.

Roteirista de Conclave usa broche da Ucrânia

O britânico Peter Straughan, roteirista de "Conclave", subiu ao palco para receber o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado usando um broche com as cores bandeira da Ucrânia.

As manifestações de Straughan, Hannah e O'Brien acontecem após o encontro desastroso de sexta-feira (28) entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o presidente americano Donald Trump e seu vice, JD Vance.

Autores de documentário produzido por israelenses e palestinos defendem Gaza

"No Other Land" ganhou o prêmio de Melhor Documentário e contribuiu para trazer um tom mais político ao Oscar 2025.

O filme é um documentário poderoso sobre a resistência palestina, uma colaboração entre cineastas palestinos e israelenses, acompanha o ativista palestino Basel Adra enquanto ele documenta a destruição de sua vila pelas forças israelenses.

Durante seu discurso de aceitação, Adra disse: "Minha esperança para minha filha é que ela não tenha que viver a mesma vida que estou vivendo agora."

Abraham condenou “a destruição atroz de Gaza e seu povo” (ele também caracterizou os reféns israelenses em Gaza como vítimas do “crime de 7 de outubro” que foram “tomados brutalmente”).

Guy Pierce com broche "Free Palestine"

O ator Guy Pearce, indicado ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por The Brutalist, virou manchete ao usar um broche “Free Palestine” na lapela do terno.

Em entrevista ao New York Times, durante o evento, Pearce disse: “Estou sempre tentando conscientizar sobre a Palestina porque ela precisa do máximo de apoio possível”.