Tainá Falcão
Blog
Tainá Falcão

Jornalista, poetisa, mulher nordestina, radicada em Brasília com passagem por SP. Curiosa. Bicho de TV. Informa sobre os bastidores do poder

Análise: Kamala Harris e a gargalhada das mulheres que escancaram o machismo

Se antes as críticas carregavam um toque de etarismo diante de gafes que minaram a possibilidade de reeleição de Biden, com Kamala Harris, a estratégia é outra

Kamala Harris durante campanha na Carolina do Norte  • 18/7/2024 REUTERS/Kevin Mohatt
Compartilhar matéria

Logo após a desistência de Joe Biden, a artilharia de opositores do atual presidente americano passou a mirar o nome sugerido para ocupar a disputa: Kamala Harris, mulher, negra, filha de imigrantes e dona de um extenso currículo de atuação na política e no Judiciário.

Se antes as críticas carregavam um toque de etarismo diante de gafes que minaram a possibilidade de reeleição de Biden, com Kamala Harris, a estratégia é outra – mais conhecida e igualmente rasteira.

Não sobram elementos para enaltecê-la e criticá-la pelo desempenho na Casa Branca. Aliás, pouco aprovado pelos eleitores, segundo pesquisas.

Para ficar apenas em um exemplo controverso, pesa contra Kamala a atuação sobre o controle da imigração na fronteira com o México, que bateu recorde durante o período.

Aos 59 anos, quase 20 a menos do que o ex-presidente Donald Trump, Kamala chega à disputa com um perfil enérgico, com a promessa de atrair o eleitorado jovem e revigorar os pontos fracos da campanha democrata.

Justamente a desenvoltura de Harris causou, e de imediato, a repulsa em seus adversários.

Não se trata do que ela pensa sobre aborto, casamento gay e imigração, para ficar nas pautas mais divergentes entre democratas e republicanos, mas sobre sua personalidade.

O canal de notícias Fox News, por exemplo, decidiu produzir um compilado da vice-presidente às gargalhadas, em diferentes momentos de seu mandato.

Ao exibir a montagem, o âncora, um homem, diga-se de passagem, afirma que “esse é um dos motivos pelos quais os eleitores parecem detestar Kamala Harris”.

A posição do jornalista converge com o que pensa Donald Trump. O ex-presidente já se referiu à vice-presidente como “louca” e a apelidou de “Kamala risonha”.

O vice de Trump, J.D. Vance, criticou Harris por não ter tido filhos em uma gravação de 2021, que voltou a circular recentemente.

Kamala Harris respondeu aos ataques à altura, com uma graciosa gargalhada na abertura de sua primeira fala após a benção de Biden e, parece, aos poucos, desarmar os ataques de cunho machista do campo adversário.

O mais recente discurso de Trump, nesta quarta-feira (24), na Carolina do Norte, mostra que a artilharia está em teste. Trump trocou o apelido de “risonha” por “mentirosa” e buscou associar Harris às derrotas do atual governo, apesar de ainda se referir à adversária como “louca”.

Ao que parece, para opositores, o maior defeito de Kamala é justamente o que não pode nem deve ser corrigido: ser uma mulher em ascensão.