Negociação do Brasil com EUA depende diretamente de Trump
Mauro Vieira aguarda sinalização para desembarcar em Washington e dialogar com representantes do governo americano

Às vésperas do início da cobrança da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o governo segue à risca a ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de insistir no diálogo com os Estados Unidos até o esgotamento do prazo.
A estratégia consiste em mostrar ao Brasil e ao mundo que o governo de Lula buscou negociação, mesmo diante da resistência da Casa Branca.
Apesar da investida, fontes no Planalto e no Itamaraty admitem que as mensagens que recebem dos Estados Unidos não convertem em boas notícias aos negociadores.
Na última semana, com viagem marcada a Nova York para participar de uma conferência da ONU, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, passou a acionar os Estados Unidos em várias instâncias a fim de marcar uma conversa, pessoalmente, com americanos.
O chanceler acionou o Departamento de Estado do país, equivalente ao Itamaraty Brasil, e o Escritório do Representante Comercial dos EUA, semelhante ao Ministério da Indústria e Comércio, além de interlocutores de Donald Trump.
A resposta que chegou a Vieira não foi muito diferente do que já tem sido dito pelos negociadores desde que Trump anunciou a sobretaxa e indica que ninguém está autorizado a conversar com brasileiros sem autorização do presidente americano. Segundo relatos que teriam sido enviados ao chanceler brasileiro, Trump bloqueou as negociações em níveis técnico e diplomático.
Apenas na semana passada, o vice-presidente Geraldo Alckmin conseguiu a primeira conversa, por telefone, com o ministro equivalente nos Estados Unidos, Howard Lutnick que, neste domingo (27), confirmou a entrada em vigor das tarifas para todos os países, incluindo o Brasil.
Apesar de já terem ouvido que Trump só negocia sob a condição política, que se resume em livrar Jair Bolsonaro (PL) de penalidades, a determinação de Lula aos negociadores, nesta última semana antes do tarifaço, ainda é de rejeitar, sumariamente, a possibilidade de admitir pressão de Trump sobre a política e o Judiciário do país.
O retorno de Mauro Vieira está previsto para terça-feira (28), mas poderá ser estendido caso os americanos aceitem uma reunião de última hora.