Por que Galípolo vai assinar a carta do BC sobre inflação se era Campos Neto o chefe do Copom em 2024?
A resposta está na institucionalidade do Banco Central, com valor para a condução da política monetária e, sobretudo, para a estabilidade da moeda
Com o descumprimento da meta de inflação em 2024, o presidente do Banco Central precisa escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando o que aconteceu e tudo que será feito para garantir que o IPCA volte para seu devido lugar. Foi em 2024 que a meta passou a ser de 3% e, a partir de agora, será contínua.
Apesar de ter assumido o BC há 9 dias, Gabriel Galípolo que vai assinar o documento que será divulgado às 18h desta sexta-feira (10).
Muitos podem se perguntar, ora, se o descumprimento da meta foi durante o mandato de Roberto Campos Neto, por que o registro histórico não terá seu nome?
A resposta está na institucionalidade do Banco Central, com valor para a condução da política monetária e, sobretudo, para a estabilidade da moeda. Antes que alguém pense em politizar o assunto, volte ao tempo e leia a segunda carta publicada pelo BC para justificar o deslize com IPCA.
Ela foi assinada por Henrique Meirelles, que acabara de assumir a presidência no primeiro governo de Lula, em janeiro de 2003. Em 2002, o IPCA ficou em 12,5%, muito acima da meta de 3,5% para aquele ano.
A disparada do dólar com o risco Lula no ano da eleição foi uma das principais causas do aumento da inflação. O BC estava sob comando de Arminio Fraga e o regime de metas tinha apenas 4 anos de vigência.
Roberto Campos Neto assumiu o BC em 2019 e, nos seis anos à frente do Copom, descumpriu a meta na metade deles, sendo 2021, 2022 e agora em 2024. No ano passado, além de problemas com a safra de grãos e na pecuária, a desvalorização cambial e o aquecimento da economia podem responder pela maior parte do desvio da inflação.
Para cumprir o que a regra do sistema de metas impõe, Galípolo terá que dizer na carta à Fazenda tudo que está sendo feito para garantir a convergência do IPCA à meta no menor tempo possível. Vai ser uma tarefa dificílima por dois motivos, basicamente.
Primeiro, os juros terão que subir muito para que isso aconteça, impondo um alto custo ao crescimento econômico.
Segundo, porque se considerarmos as expectativas dos agentes econômicos captadas pelo relatório Focus, essa não será a única carta que Galípolo terá que assinar. A previsão para o IPCA deste ano indica que o risco de descumprimento da meta novamente é altíssimo, com índice passando de 5% até dezembro.
Agora, como em 2002, o “risco Lula” é o fator mais desestabilizador da conjuntura para a dinâmica dos preços. Mesmo sendo um bom economista e mostrar estar preparado para o cargo, Galípolo terá que contar mesmo com a boa vontade do presidente da república.
Não para gravar vídeos e declarar sua admiração ao novo chefe do BC. Mas para admitir o real problema da economia brasileira e agir para corrigi-lo. A saber: a crença do governo Lula de que gasto público é vida.
Datafolha: Maioria da população acredita que inflação piorará em 2025