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    Thais Herédia
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    Thais Herédia

    Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

    Por que relatório Focus do BC não traz previsão de alta dos juros?

    Está mais difícil entender o cenário para os juros no Brasil diante dos ruídos na comunicação do BC, vide falas desencontradas dos dois “presidentes” da autarquia

    No relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (02) a previsão para a taxa Selic em 2024 e 2025 não mudou. Pela décima primeira semana seguida a expectativa para o juro neste ano está em 10,50%. A projeção para o ano que vem permanece em 10%, depois de ter sido ajustada há duas semanas. Ao mesmo tempo, as expectativas para o IPCA mudaram marginalmente, ainda fora da meta de 3%, mas sem mudanças relevantes nas projeções.

    O cenário revelado pelo Focus provoca dúvidas, afinal, depois de todas as indicações de que os juros devem subir na próxima reunião do Copom, por que a pesquisa não mudou? Está mais difícil entender o cenário para os juros no Brasil diante dos ruídos na comunicação do BC, vide falas desencontradas dos dois “presidentes” da autarquia.

    Gabriel Galipolo, indicado por Lula, e Roberto Campos Neto, ainda presidente, têm dado declarações conflitantes sobre os juros, gerando muita volatilidade nos ativos financeiros e também nas expectativas para os próximos passos do Copom. Ao mesmo tempo, o quadro da economia sugere risco inflacionário com atividade super aquecida, desemprego baixo, dólar em alta e, novidade da última semana, o acionamento da bandeira vermelha nível 2 para as contas de luz, que vai provocar alta dos preços.

    Economistas ouvidos pelo blog deram algumas explicações. Uma delas é o fato dos operadores do mercado serem mais rápidos do que os economistas ouvidos pelo BC para o Focus. Isso explica a alta na curva de juros que já embute alta na Selic neste mês há algumas semanas.

    “Os gestores e traders [operadores] têm uma visão mais agressiva com relação à política monetária, além de incorporarem um prêmio de risco aos ativos”, diz Sérgio Goldstein, estrategista da Warren Rena Investimentos.

    Goldstein também traz a explicação mais técnica, do ponto de vista estatístico para a diferença entre o Focus e o que “diz” a curva de juros, que já espera Selic em até 12% ao final de 2024. Segundo ele, o Focus representa a mediana das expectativas, indicando que a maioria dos economistas, mas não todos, ainda espera estabilidade da Selic.

    “Ainda assim, mesmo quem espera manutenção da taxa de juros, considera que a chance de elevação não é baixa”, explica.

    Até o próximo Copom, no dia 18 deste mês, as projeções devem mudar, como disseram ao blog outros economistas de mercado. Um fator relevante é a chamada data crítica do Focus, usada pelo comitê do BC para abastecer o modelo que projeta o comportamento da inflação ao longo do tempo, segundo a taxa de juros esperada.  A próxima data critica será dia 13/09, dias antes da reunião do Copom. A partir daí, devemos esperar correções mais significativas nas projeções para a Selic.

    Mesmo que haja explicações técnicas para a diferença entre o que diz o Focus, o que dizem os diretores/presidentes do BC e os economistas, é muito improvável que a Selic seja mantida em 10,50% na reunião de setembro.

    É também muito difícil que os juros não sigam num ciclo de alta até o final do ano. Não só por causa da inflação, que está pressionada, mas por causa dos riscos fiscais que seguem fortes. A apresentação da Lei Orçamentária de 2025 não aliviou receio de que o desequilíbrio das contas públicas se mantenha no ano que vem. Portanto, acaba sobrando para o BC compensar, com a política monetária, a impotência da política fiscal do governo federal.

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