Victor Irajá
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Victor Irajá

Com passagens por Estadão e rádio CBN, foi editor do Radar Econômico, da revista Veja. É especializado em Economia pela FGV e pelo Insper

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Análise: Lula joga em ambiente seguro e muda discurso sobre “colheita” em meio à pressão econômica

Discurso de Natal do presidente adapta leitura sobre os resultados econômicos do país e tem recados sobre sua saúde

Em uma fala de pouco mais de três minutos, Lula afirmou que o país tem uma “economia forte que continua a crescer”  • Reprodução
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Em meio ao aumento da pressão dos agentes financeiros em meio à deterioração das expectativas sobre a economia do país, no tradicional discurso de Natal feito pelos presidentes da República, o atual mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva, preferiu jogar em ambiente seguro, não destrinchar números dos primeiros anos de gestão e adaptar timidamente a leitura sobre as políticas do governo.

Em uma fala de pouco mais de três minutos, Lula afirmou que o país tem uma “economia forte que continua a crescer”.

“Ainda temos enormes desafios pela frente. Mas o Brasil tem hoje uma economia forte, que continua a crescer. Um governo eficiente, que investe onde é mais importante: na qualidade de vida da população brasileira”, disse o presidente em pronunciamento em cadeira de rádio, TV e redes sociais.

Depois de a manifestação de que os dois últimos anos de mandato seriam de “colheita”, o Palácio do Planalto adaptou o discurso: “Fizemos muito, e ainda temos muito a fazer. Estamos colhendo os frutos do nosso trabalho, mas é preciso continuar plantando. Semear e adubar, irrigar e cuidar, sempre e sempre”, afirmou Lula.

Não sem razão. A fala anterior a respeito da colheita havia sido interpretada como uma indicação de que o governo não teria qualquer nova medida na cartola — ou sequer interesse — para enfrentar a grave deterioração fiscal e a percepção de que o governo não está preocupado com o índice de endividamento ou a escalada do dólar.

Ambos foram impulsionados depois do anúncio do tímido pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E piorados depois de o presidente afirmar que os anos subsequentes seriam de colheita, e que o único problema econômico do país é a taxa básica de juros, a Selic, elevada.

Lula ainda deu recados e expôs posicionamentos velados sobre pautas que permearam o noticiário nacional em 2024.

Em um dos trechos, abordou a “harmonia” entre os poderes em meio ao irresoluto imbróglio envolvendo o empenho de emendas parlamentares.

Vale lembrar: o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o empenho de R$ 4,2 bilhões depois de o Congresso Nacional se dispor a votar o pacote fiscal, a regulamentação da reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ao apagar das luzes dos trabalhos no Legislativo.

“A base de tudo o que fazemos é o diálogo e o trabalho conjunto do governo federal com a sociedade, os governos estaduais e as prefeituras. É o respeito e a harmonia entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. É a defesa intransigente da democracia”, defendeu o presidente.

Depois de passar por procedimentos de emergência e internar-se no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, ele agradeceu às orações da população brasileira e também deu recados a respeito de sua saúde, tentando dissipar a narrativa de que estaria fragilizado: “Graças a essa corrente de solidariedade, estou ainda mais firme e mais forte para continuar fazendo o Brasil dar certo”.

A gravação foi supervisionada pelo publicitário Sidônio Palmeira, que preferiu um discurso seguro e ameno, mas cheio de recados e uma mudança, mesmo que tímida, na indicação sobre as preocupações do governo em torno das contas públicas.

Seu nome é sondado para substituir Paulo Pimenta no comando da Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, a Secom.

A mensagem foi plantada. Resta ver como será a colheita.

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