Análise: Nunes e Boulos atacam, mas sem criatividade, debate acaba sem gols
Repetição das mesmas acusações torna embate entediante, com mudança clara de posição do atual prefeito
Depois de posicionar-se na defensiva em relação aos ataques de Guilherme Boulos (PSOL) no debate da Bandeirantes, no início da semana, Ricardo Nunes (MDB) preferiu partir para o ataque contra o deputado federal durante o debate da Record/Estadão neste sábado (19).
Vale a comparação com o bom e velho esporte bretão: se no jogo de ida, Nunes retrancou o time, recebeu as incisividades pela esquerda e optou pelo contra-ataque, neste jogo de volta, os dois times foram para cima e, apesar dos atacantes tentarem criar, as defesas conseguiram anular as jogadas, graças à parca criatividade dos times do MDB e do PSOL.
Depois de surpreender-se com o fim do “Boulinhos Paz e Amor” e a postura incisiva de Boulos no último debate, Nunes foi claramente mais preparado para responder ao rol de acusações e críticas à Prefeitura — e com mais disposição de atacar.
Os dois passaram o passado a limpo e escrutinaram os já muito conhecidos pontos sensíveis das respectivas trajetórias por aqueles que acompanharam qualquer encontro que botasse os dois frente a frente.
Não houve qualquer novidade e as jogadas foram repetidas: as acusações trazidas por ambos foram requentadas para o encontro deste sábado. Os mesmos episódios e acusações, as mesmas ironias, as mesmas justificativas…
Depredação da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), cunhado do Marcola, André Janones, briga em porta de boate, Tarcísio de Freitas, Marta Suplicy… nada novo sob o sol.
Nunes indagou posicionamentos pretéritos de Boulos a respeito da liberação das drogas, sobre o fim da Polícia Militar e da legalização do aborto. “Você joga com a mentira de não separar quem é traficante e quem é dependente”, respondeu o candidato do PSOL.
Em relação a aborto, ele falou que “defende a vida” e a atual lei do aborto, trazendo o apoio do MDB ao projeto de lei que tornava mais rígidas as leis envolvendo as possibilidades de aborto, chamado por ele de PL do Estupro.
Boulos, por sua vez, abordou acusações da atual gestão e, novamente, desafiou Nunes a abrir o sigilo bancário. “Quem tem que abrir o sigilo é o MTST, quem tem que abrir o sigilo é o [deputado André] Janones”, disparou Nunes — claramente com a resposta na ponta da língua, já esperando a provocação.
Ele afirmou ainda que o deputado “defende corrupção”.
Como esperado, a Enel voltou ao centro do debate e ambos transferiram responsabilidades sobre o apagão que acometeu São Paulo na semana passada.
Nunes jogava a responsabilidade nas costas do governo federal e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Boulos, na conta da prefeitura da capital paulista.
O prefeito assumiu um papel indagador a respeito das políticas de segurança pública do adversário, enquanto Boulos continuou preferindo abordar o apagão nas oportunidades que teve.
Depois de ser indagado sobre posições de Ricardo Mello Araújo (PL) sobre abordagens policiais, Nunes defendeu o candidato a vice-prefeito.
Além da segurança, os candidatos discutiram a saúde e a privatização da Sabesp — assunto que marcou a clara divisão entre os dois posicionamentos sobre a desestatização da empresa de saneamento. Boulos contestou a atual gestão, enquanto Nunes criticou a gestão de Fernando Haddad, do PT, como prefeito de São Paulo.
O candidato do PSOL trouxe o debate para os aspectos da saúde para reforçar uma das principais propostas de acordo com o plano de governo, o Poupatempo da Saúde.
Nunes respondeu dizendo que fará mais 15 Unidades de Pronto Atendimento e 25 Unidades Básicas de Saúde, levantando as obras que fez.
Boulos aproveitou para indagar o prefeito sobre os posicionamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro a respeito da pandemia de Covid-19 — assunto que foi evitado por Nunes.
Nunes trouxe os resultados das pesquisas para posicionar-se sobre a candidatura do psolista. Boulos chamou Nunes de “arrogante” porque o prefeito exalta pesquisas que mostram o emedebista à frente faltando dias para as eleições e disse que “a virada vai vir essa semana”.
Se antes jogou com o regulamento — ou as pesquisas — debaixo do braço, Ricardo Nunes agora tentou sair com os três pontos. E, até o fim do campeonato, Guilherme Boulos mira o que ele mesmo classificou como “virada”.
Sobre o resultado do debate, viu-se um 0 x 0 insosso em que as defesas anularam os ataques, marcados por jogadas repetitivas e previsíveis.