Infraestrutura: prevenir agora ou pagar mais depois
Durante o CNN Talks COP30- Resiliência Climática, CEO da Motiva, Miguel Setas, defende investimentos preventivos diante da recorrência de eventos extremos

O tema da resiliência já não é mais futuro — é urgência. No painel “Brasil: Infraestrutura em Risco – Resiliência ou Colapso?” do CNN Talks COP30 – Resiliência Climática: Regulação e Financiamento, realizado nesta terça (8) em Brasília, o CEO da Motiva (antiga CCR), Miguel Setas, apresentou um diagnóstico contundente: o setor de infraestrutura brasileiro está diante de um ponto de inflexão.
Setas destacou a necessidade de um diálogo com a sociedade brasileira para definir qual estratégia o Brasil vai adotar para lidar com os eventos climáticos extremos: “Nós queremos ser preventivos e investir antes da ocorrência de eventos climáticos ou vamos ser reativos e esperar a tragédia, respondendo depois com custos muito maiores para a sociedade?”, questionou, usando como exemplo dois episódios recentes que impactaram a Companhia: o deslizamento na BR‑101 (Rio-Santos), em fevereiro de 2022, na chegada ao Litoral Norte de São Paulo, que teve um custo estimado em R$ 300 milhões, e os estragos no Rio Grande do Sul, um desastre que exigiu R$ 250 milhões para recuperação.
“Os dois eventos custaram à sociedade e à empresa cerca de $ 550 milhões”, destacou. Para o executivo, esse valor expressivo reforça a necessidade de rever prioridades.
Planejamento anual e metas até 2035
Segundo Setas, hoje a Motiva possui uma estratégia de resiliência climática para as suas operações de rodovias, trens, metrôs, VLT e aeroportos, com a meta de ter planos de mitigação para 100% dos seus ativos críticos. “Parte da estratégia envolve o monitoramento "hora a hora" dos riscos climáticos para pensar ações preventivas. Trazer o risco climático para nossa tomada de decisão e ter planos de crise para quando crises acontecem estão entre nossas preocupações diárias”, afirmou ao CNN Talks.
Investimento em infraestrutura
Setas destacou que a expansão e manutenção da infraestrutura devem garantir qualidade e segurança — e, agora, incorporar a aposta na resiliência. Ele citou a recuperação da BR‑386, no Rio Grande do Sul, como caso emblemático: além da reconstrução, foram adotadas soluções construtivas reforçadas — como taludes que evitam deslizamentos — já projetadas para resistir a eventos climáticos futuros.
“Essas soluções construtivas hoje são muito mais preparadas para os eventos climáticos que vamos ter com mais recorrência do que no ano passado. Cada quilômetro de rodovia tem a sua solução — é um trabalho contínuo, não uma solução imediata.”
Novos contratos com cláusulas climáticas
O CEO também teceu elogios ao avanço regulatório. “Os novos contratos de concessão de rodovias já contemplam mecanismos para aplicar até 1% da receita bruta no investimento em infraestrutura resiliente. Isso é um passo importante, e precisamos aprofundar esses mecanismos de incentivo a um investimento direcionado à preparação”, concluiu.
COP30 como palco de debate transformador
Setas vê na COP30, que acontecerá em Belém, uma oportunidade para elevar a pauta da infraestrutura resiliente a um novo patamar: “Será um espaço para discutir o impacto social das catástrofes ambientais, também o financiamento para essa resiliência climática.”
O painel evidenciou que em países de dimensão continental como o Brasil, com vulnerabilidades climáticas crescentes, atuar preventivamente deixa de ser opção para se tornar uma necessidade estratégica. A escolha está posta: investir antes ou pagar mais depois.
A COP30, ao reunir lideranças e especialistas no coração da Amazônia, promete ser um marco para impulsionar políticas e investimentos que tornem o país mais preparado para os desafios climáticos do século XXI. O caminho é claro: ou se aposta em ações antecipadas e planejadas, ou o custo das consequências será cada vez mais alto para toda a sociedade.