Economia do Brasil deve ter pior desempenho do G20 em 2022, diz pesquisa

Inflação disparou para mais de 10%, taxa mais elevada desde a crise política de cinco anos atrás, enquanto o desemprego permanece perto de níveis recordes

Gabriel Burin e Tushar Goenka, da Reuters
Dinheiro; reais
  • Natalia Flach
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A economia do Brasil está desacelerando rapidamente e deve registrar o pior desempenho entre as 20 principais do mundo no próximo ano, com riscos de recessão no horizonte de um ano de eleição, mostrou uma pesquisa da Reuters.

A maior economia da América Latina está passando por uma recuperação instável do impacto da pandemia do coronavírus, apesar do prognóstico de crescimento de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, o mais forte em uma década.

A inflação disparou para mais de 10%, taxa mais elevada desde a crise política de cinco anos atrás, enquanto o desemprego permanece perto de níveis recordes.

Novos planos de aumento de gastos pelo governo abalaram os mercados domésticos, e o mais agressivo ciclo de alta de juros do mundo, que já puxou a taxa Selic em 5,75 pontos percentuais neste ano, está esfriando a atividade econômica.

Sob tal dinâmica negativa, "o país corre o risco de sofrer uma recessão em 2022... os riscos estão definitivamente inclinados para o lado negativo", disse Olga Yangol, chefe de pesquisa e estratégia para mercados emergentes para as Américas do CA-CIB.

A expansão do PIB brasileiro vai desacelerar de 5,1% em 2021 para 1,6% em 2022, ritmo mais fraco entre o Grupo das 20 principais economias, de acordo com análise da última pesquisa econômica global trimestral da Reuters.

A taxa esperada é inferior inclusive à de 2,3% prevista para a vizinha Argentina, nação em profunda crise econômica, de acordo com a mediana das estimativas de 36 projeções da sondagem realizada de 18 a 25 de outubro.

Economistas culpam a perda de disciplina orçamentária do presidente Jair Bolsonaro, que, segundo eles, mira as eleições gerais de outubro de 2022.

Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva --que tem sólida vantagem nas pesquisas de intenção de votos-- quer um papel maior do estado na economia.

Bolsonaro prometeu neste mês mais do que dobrar os valores pagos hoje pelo Bolsa Família, que seria transformado no Auxílio Brasil.

A decisão envolve despesas extras relativamente pequenas, mas suficientes para violar o chamado teto de gastos, instrumento que limita aumento de gastos do governo e visto pelo mercado como âncora fiscal.

A perspectiva de problemas econômicos adicionais surge em um momento de exacerbadas tensões políticas no Brasil. Bolsonaro enfrenta índices de aprovação em declínio e acusações pela CPI da Covid-19 no Senado de uma série de crimes na condução da crise sanitária.

"Taxas de juros mais altas, somadas a inflação elevada, confiança em queda e preços de commodities mais baixos, significam que um ou dois trimestres de contração (econômica) são uma clara possibilidade", disse William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics.

Mais aperto monetário à frente

Na mais recente tentativa de ancorar as expectativas de inflação, o Banco Central aumentou sua taxa básica de juros em 150 pontos base na quarta-feira, para 7,75%. E prometeu mais.

"Se as condições atuais persistirem e o regime fiscal finalmente mudar, acreditamos que as taxas de juros serão aumentadas para pelo menos 11,5% ao fim do primeiro trimestre", disse Andres Abadia, economista-chefe para a América Latina da Pantheon Macroeconomics.

Questionados sobre os riscos para suas previsões econômicas, 13 dos 18 entrevistados (ou 72%) disseram ser mais para o lado negativo, e quase o mesmo grupo afirmou que suas projeções de inflação estão inclinadas para cima.

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