Governo negocia com Congresso subsídio para gás de cozinha e diesel, dizem fontes
Objetivo é reduzir o impacto da disparada de preços provocada pela guerra da Ucrânia

O governo federal negocia com o Congresso a criação de subsídios emergenciais para gás de cozinha, diesel e passagem de ônibus, confirmaram à CNN três fontes diretamente envolvidas. O objetivo é minimizar a disparada dos preços dos combustíveis provocada pela guerra na Ucrânia.
A avaliação é que não há condições políticas para a Petrobras promover o repasse de preços que seria necessário para reestabelecer a paridade com o mercado internacional. O receio do governo é de uma convulsão social a exemplo do que já aconteceu em 2013.
Nesta sexta-feira (4), a defasagem do preço doméstico em relação ao internacional chegou a 32% no diesel, conforme a Associação Brasileira dos Importadores dos Combustíveis (Abicom). Na gasolina, a diferença é de 28%, mas esse combustível não deve receber subsídios porque elevaria muito o custo do programa.
A alternativa em análise é utilizar o mesmo mecanismo adotado pelo governo do ex-presidente Michel Temer quando ocorreu a greve dos caminhoneiros em 2018.
O Tesouro reembolsaria a diferença para as refinarias, incluindo a Petrobras. Segundo explicou uma fonte do governo, não faltam recursos devido ao pagamento recorde de dividendos e royalties pela própria estatal.
A principal dificuldade é a lei eleitoral, que proíbe o estabelecimento de novos subsídios em ano de pleito presidencial. Por isso a avaliação dentro do governo é que essa medida precisa ser incluída nos projetos de lei sobre combustíveis que tramitam no Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já disse que pretende votar as medidas na próxima semana.
As discussões estão sendo coordenadas pelo ministério de Minas e Energia, com participação da Casa Civil e do ministério da Economia. A Petrobras também tem participado com informações técnicas.
Fontes próximas à empresa avisaram o governo que não é possível segurar reajustes por muito mais tempo, já que não reajusta os preços há 50 dias.
A preocupação da estatal é com o abastecimento interno, pois sua produção não é suficiente para atender a demanda. As legislação das companhias abertas impede a Petrobras de importar combustível no exterior mais caro e vender com prejuízo no Brasil.
- 1 de 9
O petróleo é considerado uma commodity. O termo se refere a recursos finitos que têm origem na natureza e são comercializados. No caso, o petróleo é usado principalmente como combustível, mas também dá origem a materiais como o plástico
Crédito: REUTERS/Vasily Fedosenko - 2 de 9
O petróleo pode ser de vários tipos, dependendo principalmente do seu grau de impureza. Os dois principais, Brent e WTI, são leves (pouco impuros), e a diferença se dá pelo local de negociação: bolsa de Nova York no caso do Brent e bolsa de Londres no caso do WTI
Crédito: Instagram/ Reprodução - 3 de 9
Os preços do petróleo seguem uma cotação internacional, e flutuam pela oferta e demanda. No Brasil, o preço de referência adotado pela Petrobras - maior produtora no país - é do Brent, seguindo a cotação internacional, em dólar
Crédito: REUTERS - 4 de 9
Quando se fala da comercialização de petróleo, um fator importante é a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Com 13 membros, ela é responsável por quase 50% da produção mundial de petróleo, e portanto consegue regular a oferta - e preços - pelos fluxos de produção
Crédito: Reuters/Dado Ruvic - 5 de 9
A partir de 2020, os preços do petróleo foram afetados pela pandemia. A Opep+ (que inclui países aliados do grupo, como Rússia) decidiu cortar a produção temporariamente devido à baixa demanda com lockdowns, e os preços caíram. A média em 2020 foi US$ 40, distante da média de anos anteriores, entre US$ 60 e US$ 70
Crédito: REUTERS - 6 de 9
Em 2021, porém, o cenário mudou, com o avanço da vacinação, os países reabriram rapidamente, e a demanda por commodities decolou, incluindo pelo petróleo. A Opep+, porém, decidiu manter os níveis de produção de 2020, e a oferta baixa fez os preços saltaram, ultrapassando US$ 80
Crédito: REUTERS/Nick Oxford - 7 de 9
A alta dos preços do petróleo, porém, trouxe consequências negativas para o Brasil. Como a Petrobras segue a cotação internacional e o dólar está valorizado ante o real, ela subiu o preço nas refinarias, o que levou a uma elevação da gasolina e outros combustíveis. Até o momento (dezembro de 2021), o preço da gasolina já subiu 70% ante 2020
Crédito: REUTERS/Max Rossi - 8 de 9
A alta do petróleo não afetou só o Brasil. Países dependentes da commodity, como EUA, Índia e Reino Unido, também viram os preços dos combustíveis subirem, e têm tentado pressionar a Opep+ a retomar os níveis de produção pré-pandemia
Crédito: Reuters - 9 de 9
Ao que tudo indica, porém, a mudança na política de preços da Opep+ deve ocorrer apenas em 2022, com os países membros aproveitando para se recuperar das perdas em 2020
Crédito: REUTERS/Sergei Karpukhin