Ibovespa fecha em 5ª alta seguida; dólar cai a R$ 5,20

Principal índice da B3 subiu 1,55% nesta terça-feira, enquanto moeda norte-americana recuou 1,09%, com investidores ainda de olho nas incertezas políticas no Brasil após os ataques aos Três Poderes em Brasília no domingo

Da Reuters
Investidores citaram manutenção do sentimento de alívio nos mercados diante das veementes oposições de instituições democráticas brasileiras aos eventos do fim de semana na capital federal.  • 03/11/2009REUTERS/Rick Wilking
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O Ibovespa fechou em alta de 1,55% nesta terça-feira (10), aos 110.816,71 pontos, favorecido por ações de varejistas e pelo tom positivo em Wall Street, enquanto investidores continuam acompanhando os desdobramentos dos ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no domingo (8).

Pão de Açúcar puxou o campo positivo com valorização de 8,76% no dia, seguido por Magazine Luiza (7,77%) e Americanas (7,49%). Também figuram Petz (5,86%) e Grupo Soma (5%). Destaque também para CSN Mineração (6,57%) e Ecorodovias (5,82%).

Já o dólar fechou em queda de 1,09% nesta terça-feira (10), cotado a R$ 5,201, com a moeda brasileira se beneficiando de fluxos para a bolsa local e de uma reação forte das instituições brasileiras aos ataques bolsonaristas em Brasília, em movimento amparado ainda pelo clima benigno no exterior.

Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse à Reuters que o real parece ter se beneficiado de um movimento simultâneo de fechamento da curva de juros e bom fluxo de recursos para as ações brasileiras, com o em alta nesta tarde.

Investidores também citaram a manutenção do sentimento de alívio nos mercados diante das veementes oposições de instituições democráticas brasileiras aos eventos do fim de semana na capital federal.

Depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram no domingo os prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram o decreto que estabelece a intervenção federal na área de segurança pública do Distrito Federal.

Além disso, na noite de segunda-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, governadores e ministros do STF caminharam juntos do Palácio do Planalto até a sede do Supremo para vistoriar os estragos, num gesto para simbolizar união na defesa da democracia, enquanto as autoridades ampliaram as prisões de acusados pelos ataques.

"Teve aquele estresse, o mercado estava esperando para ver como os Três Poderes reagiriam, como a sociedade reagiria, e todos agiram corretamente. O mercado está se desfazendo do risco que foi inicialmente precificado", avaliou Wakabayashi.

A agência de classificação de risco Moody's disse nesta terça-feira que não espera que o perfil de crédito dos emissores brasileiros, inclusive o soberano, seja significativamente afetado pelos eventos recentes em Brasília, citando percepção de força institucional e estabilidade econômica.

Para além de fatores domésticos, alguns participantes do mercado apontaram o comportamento do mercado global como um suporte adicional para o real, em meio à oscilação tímida do índice do dólar contra uma cesta de pares fortes e avanço dos principais índices de Wall Street.

O chair do banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), não deu grandes pistas sobre os próximos passos de política monetária da instituição em comentários feitos nesta terça-feira, mas disse que a independência do Fed da influência política é fundamental para sua capacidade de combater a inflação.

"Ele (Powell) era bastante aguardado na manhã desta terça-feira, mas não trouxe grandes novidades em termos de política econômica", disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

"Powell não mencionou detalhes a respeito da estratégia da trajetória para a taxa de juros nos EUA, e, com isso, favorece o ambiente de apetite por risco, por moedas de países emergentes, ações, commodities, e contribui para o fortalecimento do real."

Alguns investidores temiam que Powell pudesse oferecer em seu discurso desta terça-feira uma visão mais agressiva para o patamar final dos juros nos EUA do que o atualmente previsto pelos mercados.

O Fed elevou sua taxa básica em 4,25 pontos percentuais no ano passado, no ciclo de aperto mais agressivo em décadas, mas recentemente diminuiu a magnitude de seus ajustes na política monetária para alta de juro de 0,50 ponto percentual, contra incrementos anteriores de 0,75 ponto.

Já a equipe da XP Investimentos destacou que o noticiário brasileiro segue focado nos eventos pós-invasões em Brasília, mas que não foram verificados incidentes maiores, apesar da defesa de bloqueio de refinarias por alguns dos invasores.

"Assim, os efeitos sobre ativos brasileiros foram limitados e o debate deve retornar às medidas econômicas do governo em breve", afirmou em comentário a clientes, acrescentando que a visão momentânea dos participantes do mercado é que a resposta das instituições brasileiras ao ocorrido foi satisfatória.

Também na véspera, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que as medidas da área econômica serão, sim, anunciadas esta semana, como estava planejado. "Haverá medidas anunciadas esta semana. Amanhã temos reunião marcada e haverá esta semana anúncio de medidas no âmbito da Fazenda e da Gestão", garantiu.

Na agenda macroeconômica local, o destaque do dia é o IPCA de dezembro, que subiu 0,62%, acima do esperado. Em 2022, a inflação oficial do país ficou em 5,79%, bem abaixo da taxa de 10,06% vista em 2021, mas acima das previsões e do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

*Publicado por Ligia Tuon e Ana Carolina Nunes

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