“Prejuízo incalculável”, diz Abiove sobre mistura do biodiesel em 10% para 2022
Desemprego no campo pode atingir 250 mil e fábricas ficam ociosas com limite de composição
A expectativa de atingir 15% de biodiesel na composição do diesel até 2023 ficou para trás após o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidir manter o teor de 10% para o ano de 2022.
A medida frustrou empresários do setor que investem desde 2016 na ampliação da composição no combustível, quando foi aprovado o novo teto de produção.
Com capacidade de ampliar a produção de biodiesel para chegar a 18% da mistura, Daniel Amaral, economista chefe da Abiove, afirmou que o investimento feito está parado e ainda não há como calcular os prejuízos.
“Tem fábricas prontas para inaugurar em vários estados importantes do país, conseguimos fazer até o B18 (diesel com 18% de biodiesel na composição). Mas a confiança do empresário foi quebrada. Os prejuízos são incalculáveis”, ressaltou o economista.
O biodiesel foi introduzido de maneira compulsória na matriz de combustíveis brasileira em 2008. Desde então, a mistura no óleo diesel rodoviário cresceu gradualmente de 2% para 13%. Amaral também destaca o impacto do desemprego no setor, que é baseado em agricultura familiar.
“Vai prejudicar especialmente o agricultor familiar, a parte mais sensível. Hoje, com 12% de mistura obrigatória, temos 74 mil famílias nesse processo, ano que vem já teremos 61 mil famílias, cerca de 13 mil famílias a menos", afirmou.
"Se considerarmos que ano que vem era para ser 14%, teríamos uma expansão para 86 mil famílias. E se considerarmos que cada família tem cerca de dois ajudantes, o impacto chega a 250 mil pessoas, direta e indiretamente”, estimou.
Outro ponto destacado é a previsão de uma safra de soja recorde no ano que vem, somando cerca de 144 milhões de toneladas. O economista avalia que, sem esse aumento do biodiesel, o Brasil terá que gastar R$ 1,2 bilhões a mais no ano que vem com a importação de combustíveis fósseis.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, órgão ao qual o CNPE está submetido, a justificativa para manutenção do percentual está na alta do custo das matérias-primas vegetais para a elaboração do produto. A decisão é uma estratégia para conter a alta de preços.
“A decisão tomada nesta segunda-feira coaduna-se com os interesses da sociedade, conciliando medidas para a contenção do preço do diesel com a manutenção da Política Nacional de Biocombustíveis, conferindo previsibilidade, transparência, segurança jurídica e regulatória ao setor”, afirmou o ministério.
*Sob supervisão de Stéfano Salles