O Brasil na Nova Era de Globalização?
A globalização mudou de eixo, e o Brasil está mais bem posicionado do que nunca para deixar de ser apenas uma potência em potencial

Na turbulência da nova ordem mundial, o Brasil está mais bem posicionado do que nunca para deixar de ser apenas potência em potencial — e assumir, com estratégia e sofisticação, um papel de protagonismo real.
A globalização mudou de eixo. Com os Estados Unidos erguendo tarifas como quem ergue muros, a China expandindo sua influência sem disparar um tiro, e a Europa tentando reencontrar coesão, o cenário internacional exige não apenas força, mas inteligência de articulação.
O Brasil, ao contrário do que muitos supõem, não está na periferia desse jogo. É, cada vez mais, peça central, ao contrário do que a “tarifa mínima” imposta por Trump pode fazer pensar. Com uma economia diversa, uma diplomacia tradicionalmente respeitada e uma cultura de alcance transcontinental, o país reúne os atributos para ser elo entre mundos.
Essa possibilidade se materializa nas últimas movimentações estratégicas, como a abertura do escritório da Apex em Lisboa, acompanhada por outras instituições brasileiras. Mais do que gesto diplomático, trata-se de um movimento geoeconômico: utilizar a língua portuguesa como ponte natural entre mercados e uma ferramenta de negócios.
Lisboa não é apenas um ponto na Europa — é hoje, para o Brasil, um observatório privilegiado do mundo lusófono e uma plataforma de expansão para África, Ásia e Europa. É ali que a língua portuguesa se revela não apenas identidade, mas infraestrutura de influência. Em tempos de desglobalização caótica, a lusofonia pode ser a rede alternativa de uma globalização inteligente, cultural e solidária.
Mas o Brasil ainda hesita. Entre vocações universais e disputas domésticas, o país nem sempre transforma potencial em projeto. O risco é perder a fluidez e o timing que o novo mundo exige. Esta guerra tarifária iniciada por Trump, por exemplo, empurra aliados tradicionais a se reagruparem, abrindo espaço para arranjos fora do eixo Washington-Pequim. Se o Brasil não ocupar esse espaço com clareza — inclusive fazendo da língua um instrumento político e econômico — outros o farão. O tempo da neutralidade passiva passou.
O mundo pede reinvenção. A globalização que ressurge não é mais linear, mas conectiva, baseada em redes culturais, tecnológicas e comerciais. E poucas nações têm uma rede tão naturalmente distribuída quanto o Brasil: da Guiné-Bissau a Timor-Leste, de Lisboa a Maputo, passando por São Paulo e Luanda. Falar português é, neste contexto, um ato geopolítico. O Brasil pode ser elo, não exceção. Mas para isso precisa agir como potência: com ambição, presença e projeto.
