Um abraço pela vida e contra a violência

Na última quarta-feira (1º), vivi uma experiência que me marcou profundamente: participei, ou melhor, fiz a curadoria da 8ª edição do Abraço no Pátio, realizado no Shopping Higienópolis (SP). O evento, que celebrou o Dia Internacional da Não-Violência, foi muito mais do que um encontro com moda, música e cultura, foi um espaço de reflexão, empatia e resistência.
O encontro reuniu nomes importantes da cena cultural e da moda brasileira. Pela manhã, estiveram presentes Paulo Borges, fundador do São Paulo Fashion Week, o estilista Luiz Cláudio e a empresária Preta Nascimento. À tarde, o brilho veio com as vozes poderosas de Letícia Soares e Paula Lima, que trouxeram emoção e consciência em cada palavra. Ver tantas pessoas reunidas em torno de um tema tão urgente me fez acreditar que o caminho da mudança passa, sim, por encontros como esse.
Mas confesso que, em meio às falas inspiradoras, não consegui deixar de pensar na realidade dura que nos cerca. Falar em não-violência, no Brasil, significa encarar números assustadores: o Atlas da Violência de 2024 mostra que 77% das vítimas de homicídio no país são negras. Quando olhamos para a juventude, o recorte é ainda mais doloroso: jovens negros têm quase três vezes mais chances de serem assassinados do que jovens brancos. Esses números não são apenas estatísticas frias, eles têm rostos, nomes, histórias interrompidas.
Por isso, enquanto assistia às falas de artistas e líderes que admiro, senti que aquele momento tinha uma força simbólica enorme. O Abraço no Pátio não foi apenas uma celebração cultural, mas também um ato, um lembrete de que precisamos transformar a empatia em ação concreta. A presença da Revista RAÇA como apoiadora e co-realizadora reforçou a urgência de manter viva a discussão sobre inclusão, respeito e a luta contra o racismo estrutural que alimenta a violência em nosso país.
No Dia Internacional da Não-Violência, inspirado pela memória de grandes personalidades negras vitimas da violência, lembro que cada um de nós tem um papel nesse processo. Não se trata apenas de rejeitar a violência física, mas também de combater as violências simbólicas, institucionais e cotidianas que continuam marcando a vida da população negra.