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    Maurício Pestana
    Coluna

    Maurício Pestana

    Jornalista, escritor e especialista em Diversidade e Inclusão. Preside o Fórum Brasil Diverso e RAÇA Brasil Comunicações

    De boia-fria a diretor de multinacional

    Como medir uma competição com justiça quando atletas competem de forma diferenciada? Alguns usando tênis, bem alimentados, treinados, descansados e prontos para a disputa com outros descalços, pouco alimentados, sem treinos, pois o único tempo que tiveram para o exercício foi dedicado ao trabalho para o sustento da família, ou seja, ao invés de comprarem o tênis da competição, a prioridade foi a compra da alimentação.

    Esse dilema se encontra presente nos dias de hoje não só no meio esportivo, mas também no educacional e corporativo brasileiro.

    Negros e negras neste país ainda têm como maiores adversários a falta de oportunidades ainda na largada, por isso permanece comum ser o primeiro ou o único da família a entrar em uma faculdade cuja educação, ou melhor, a formação universitária, chega com atraso, em geral, de qualidade inferior sendo determinante na disputa meritocrática lá na frente, na reta final, da disputa no mercado.

    Nosso país há pouco tempo acordou para esse dilema, somente neste século, mais de cem anos após a abolição da escravatura e por pressões internas do movimento negro, e externas, como as resoluções da Conferência de Durban, na África do Sul, em 2001, quando tomamos as primeiras medidas, como cotas raciais nas universidades e no serviço público.

    O setor privado foi o último a aderir à onda, porém o tema da meritocracia ainda disputa narrativas questionando, por exemplo, competências.

    Mas de que competência estamos falando, uma vez que se esses candidatos que chegam já passaram por filtros, testes, discriminações a toda prova, vencendo uma verdadeira maratona e provando estarem muitas vezes muito mais preparados. Afinal, foram talhados pelo desafio.

    Esta semana será lançado um livro que expõe bem essa disputa: “De boia-fria a diretor de multinacional”, obra autobiográfica de Claudionor Alves, publicado pela editora Raça Brasil, que narra a vida de um garoto negro nascido no interior da Bahia que, antes de se deparar com o grande desafio da vida – o sonho de ocupar um cargo de direção de uma multinacional – , encontra todo tipo de adversidades impostas a jovens negros em uma cidade como São Paulo.

    E sua ascensão se dá exatamente nos últimos dez anos, período em que as empresas no Brasil começam a reescrever o espaço negro no mundo corporativo.

    Há muito ainda a se estudar sobre o tema e os embates que começam a ocorrer no mundo das empresas no que diz respeito a oportunidades, vagas afirmativas, meritocracia e ascensão de negras e negros em cargos diretivos no mundo corporativo, nesse novo cenário que se desenha no Brasil.

    Livros como o de Claudionor podem nos dar pista de que algo novo está acontecendo no território das ações afirmativas em nosso país e que um futuro mais diverso, participativo e inclusivo começa a se desenhar e que uma nova história começa a ser escrita.

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