Agropecuária se recupera de impactos climáticos e deve manter números fortes, dizem especialistas

Setor cresceu 21,6% no primeiro trimestre, maior alta de 1996, e representa 8% do PIB

Pedro Zanatta, da CNN, em São Paulo
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O crescimento da agropecuária e sua relevância para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 1° trimestre de 2023 foi recebido com surpresa pelo mercado. O setor registrou um aumento de 21,6% entre janeiro e abril, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a maior alta desde o quarto trimestre de 1996, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para especialistas ouvidos pela CNN, o forte desempenho se deu pela recuperação do setor, que sofreu impactos importantes em trimestres anteriores por conta de questões climáticas, mas agora registra safras robustas de grãos. Além disso, o aumento da área plantada e da produtividade são características citadas pelos especialistas como algo em constante evolução no Brasil.

"Esse desempenho reflete a safra recorde de grãos, sobretudo de soja. Outros grãos também apresentam performance robusta, contribuindo materialmente para a economia como um todo. Essa expansão da safra se deve tanto ao aumento de área plantada quanto aos ganhos de produtividade. O agronegócio no Brasil mostra aumentos de produtividade consistentemente ao longo do tempo. Agora tivemos condições climáticas que foram favoráveis para a época de plantio e de colheita", diz Rodolfo Margato, economista da XP.

O Coordenador Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon, afirmou que a confederação, após a divulgação dos dados pelo IBGE, deve revisar suas projeções para o PIB brasileiro e da agropecuária ao longo de 2023.

"A CNA vai revisar suas projeções previstas para 2023 e nós devemos observar um viés de alta, ou seja, com o resultado apresentado hoje, os indicadores, tanto para o PIB Brasil quanto para o PIB da agropecuária devem subir um pouco quando comparado às nossas últimas projeções", disse.

Para o PIB brasileiro, Conchon informou que a instituição prevê agora um crescimento de 1,2% ao longo do ano. Já para a agropecuária, a nova expectativa é de uma alta de 10,5% ao longo em 2023.

O pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro) Felippe Serigatti explica que, com relação ao clima, a safra passada sofreu um choque com o fenômeno La Niña. Logo, o setor vinha de uma "base estreita", o que também possibilitou para uma recuperação vigorosa.

"A safra passada já começa com a base estreita, estávamos sobre efeito do La Niña forte que pegou propiciamente a região Sul, importante produtora de grãos, soja e milho. O Fumo também é produzido no Rio Grande do Sul", afirmou.

A MB Associados, em relatório divulgado, destaca o desempenho do agronegócio e menciona o desempenho da safra de soja e prevê números fortes para os próximos meses, até o final deste ano.

"Se nos últimos dois anos foram os preços e o câmbio que ajudaram o setor, dessa vez será a produção. A safra recorde já dá seus primeiros sinais de impacto no começo do ano, com expansão de 18,8% no interanual. A soja foi a grande responsável, mas dado que a safra tende a ser bastante positiva no ano como um todo, ainda veremos números fortes aparecerem até o final do ano", diz o documento.

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No próprio relatório divulgado pelo IBGE, o instituto pontua que o resultado do agronegócio pode ser explicado pelo bom desempenho de produtos da lavoura com safra relevante no primeiro trimestre e pela produtividade. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a agropecuária cresceu 18,8%.

Marcos Jank, especialista em agronegócio da CNN e pesquisador sênior no Insper, afirma que, além da produção recorde, a forte alta ante o primeiro trimestre do ano passado se deu pela fraca base de comparação.

Entre janeiro e março de 2022, o agro registrou perda de 8% ante os três primeiros de 2021, reflexo de uma forte seca que atingiu o país na época.

Olhando para frente, o especialista ressalta que a tendência é de manutenção dos resultados positivos, porém não na mesma magnitude ao observado no primeiro trimestre deste ano.

O aumento da produção, porém, já impacta na redução dos preços, o que deve gerar diminuição das áreas plantadas — e consequentemente do PIB — a partir do segundo semestre.

"Este ano será muito bom para o PIB no agronegócio, com a maior safra da história na soja e no milho. Mas, a partir da próxima safra, que será plantada em setembro, já poderemos ver impacto de queda na produção pela redução dos preços", explica.

Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), a soja, principal cultivo, apresentou ganho de produtividade e crescimento expressivo na produção anual, estimada em 24,7%. Com exceção do arroz (-7,5%), outras culturas com safra relevante nesse trimestre também apontaram crescimento na produção anual e ganho de produtividade, como milho (8,8%), fumo (3,0%) e mandioca (2,1%).

"Tínhamos essa perspectiva em linha com que estamos vendo de previsão para soja e milho, com um crescimento muito expressivo e são os dois principais produtos, com destaque para a soja. Além disso, a colheita da soja é maior no primeiro e no segundo trimestre. Neles, o bom desempenho desses grãos eles acabam tendo esse efeito, mesmo olhando o dado com ajuste sazonal", avalia o pesquisador do Ipea José Ronaldo Souza Júnior.

Felippe Serigatti também diz que a expectativa é para resultados ainda melhores ao longo do ano, com a segunda safra de milho, que tem grande potencial.

Resultados e projeções divulgados recentemente pelo Ministério da Agricultura e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reforçam expectativas para recordes.

Segundo a Conab, para a safra total de grãos 2022/23, a previsão atual é de recorde de 313,9 milhões de toneladas, contra 312,5 milhões na estimativa de abril, representando um avanço de 15,2% na comparação anual.

Já segundo a Agricultura, a receita com exportações do agronegócio, nos quatro meses de 2023, alcançou valor recorde de US$ 50,6 bilhões. Em nota, a pasta diz que o setor foi responsável por quase metade das vendas externas totais do Brasil no período, com participação de 49%.

Serigatti chama a atenção, pois, segundo ele, com relação aos preços para o produtor, uma safra recorde costuma derrubar essas margens. No entanto, o pesquisador diz que, com as altas expectativas para exportações, ainda que com cotações operando em um menor patamar, "em termos de Brasil, será uma renda brutal".

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